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Diário de quem já não vai para novo

...e sem paciência para seguir o rebanho.

Diário de quem já não vai para novo

...e sem paciência para seguir o rebanho.

17.02.25

Colhemos o que semeamos


a. almeida

Pinto da Costa, partiu. Vai hoje a sepultar.
Como homem, deixo as condolências à família, aos sócios e adeptos e sincero desejo que descanse em paz.

Quanto ao papel que teve enquanto dirigente desportivo e do futebol, num âmbito clubista, é exaltado pelo universo do clube, sócios e adeptos, o que é normal e natural, porque no geral estes julgam os êxitos, mas não querem saber patavina da natureza dos meios utilizados para os conseguir.

Para quem está de fora desse universo, como eu, nada me diz de modo particular,  sendo que partiu uma figura que de um modo ou outro esteve ligado a um sistema obscuro, que claramente deturpou durante décadas a verdade desportiva, sendo uma figura maior mas não a única, até porque há destes tristes exemplos no meu próprio clube e noutros. Que foi uma figura marcante, polémica e controversa, amada e odiada, concordo.

Quanto ao resto, o habitual, com a comunicação social a dar um destaque exacerbado e dar importância à dúvida se o Benfica ou Sporting deram ou não os sentimentos, se vão, ou não, marcar presença institucional nas cermónias fúnebres. E porque terão que o fazer se no geral sempre foram desrespeitados, desconsiderados ou alvos de duras e ferozes críticas por tal figura? E porquê o Benfica ou Sporting, se, entre outros correligionáros, até o próprio e actual presidente do clube, que o derrotou nas urnas, foi sentenciado, nas suas últimas vontades, a não estar presente? Ora quem mesmo na morte deixa expressos de forma tão vincada estes ressentimentos, mesmo para com os seus, não vejo porque seja merecedor de apreços terceiros, mesmo que friamente institucionais.

É o que é! Colhemos sempre o que semeamos, mesmo nos últimos instantes da vida. Não podemos esperar colher flores onde plantamos espinhos.

Que descanse em paz!

17.02.25

Os solos quando nascem não é para todos


a. almeida

Não se pode! Então estava eu a preparar-me para concorrer ao cargo de presidente da Junta cá da terrinha, e descobri agora que o meu cunhado tem um empresa de jardinagem e a minha irmã uma empresa de criação de tartulhos e a vizinha do meu irmão tem uma empresa de limpezas de terrenos florestais e plantação de morangos. Já o melhor amigo do vizinho do meu primo, esse tem uma empresa de construção e só nos últimos cinco anos construíu e vendeu quatro casas geminadas. 

Dizem que, a bem ver, todos eles têm interesses directos ou indirectos com a lei dos solos e que isso coloca entraves à minha pretensão, como quem diz, faz de mim um quase criminoso. Não tarda, tenho "A Prova dos Factos" da RTP ou a CMTV a vasculharem a minha vidinha e com jeitinho, o meu irmão que está na Noruega, perto do Pólo Norte, também tem lá montada uma empresa de construção de iglus, também me vai ajudar a arrefecer a minha ambição.

Melhor será não concorrer e deixar isso para quem vive sozinho em Marte e não tem família nem amigos com empresas montadas, não porque não faltem marcianos,mas por agora não há por lá lei dos solos.

Nestas coisas, é melhor não ter família. Num repente deixam-nos ficar mal, a travar as nossas aspirações pessoais de bem servir os outros. Quem não tiver um familiar com uma empresa que atire o primeiro tijolo!

Os solos, realmente, quando nascem não é para todos.

[Dentro da mesma linha e porque concordo...]

11.02.25

XXXIII Dia Mundial do Doente - 11 de Fevereiro


a. almeida

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO PARA O XXXIII DIA MUNDIAL DO DOENTE

11 de fevereiro de 2025

«A esperança não engana» (Rm 5, 5)
e fortalece-nos nas tribulações

Queridos irmãos e irmãs!

Estamos a celebrar o XXXIII Dia Mundial do Doente no Ano Jubilar de 2025, durante o qual a Igreja convida a tornarmo-nos “peregrinos de esperança”. Nisto, somos acompanhados pela Palavra de Deus que, através de São Paulo, nos transmite uma mensagem de grande encorajamento: «A esperança não engana» (Rm 5, 5), aliás, fortalece-nos nas tribulações.

São expressões reconfortantes, mas que podem levantar algumas questões, sobretudo em quem sofre. Por exemplo: como é que nos mantemos fortes quando somos feridos na carne por doenças graves, que nos incapacitam, que talvez exijam tratamentos cujos custos vão para além das nossas possibilidades? Como fazê-lo quando, não obstante o nosso próprio sofrimento, vemos o daqueles que nos amam e que, embora próximos de nós, se sentem impotentes para nos ajudar? Em todas estas circunstâncias, sentimos a necessidade de um apoio maior do que nós: precisamos da ajuda de Deus, da sua graça, da sua Providência, daquela força que é dom do seu Espírito (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1808).

Detenhamo-nos, pois, por momentos, a refletir sobre a presença de Deus junto dos que sofrem, particularmente nos três aspetos que a caracterizam: o encontro, o dom e a partilha.

1. O encontro. Quando Jesus envia os setenta e dois discípulos em missão (cf. Lc 10, 1-9), exorta-os a dizer aos doentes: «O Reino de Deus já está próximo de vós» (v. 9). Ou seja, pede-lhes que os ajudem a aproveitar a oportunidade de encontro com o Senhor, mesmo na doença, por muito que seja dolorosa e difícil de compreender. Com efeito, no momento da doença, se por um lado sentimos toda a nossa fragilidade – física, psíquica e espiritual – de criaturas, por outro lado experimentamos a proximidade e a compaixão de Deus, que em Jesus participou do nosso sofrimento. Ele não nos abandona e, muitas vezes, surpreende com o dom de uma tenacidade que nunca pensámos possuir e que, sozinhos, não teríamos encontrado.

A doença torna-se então a oportunidade para um encontro que nos transforma, a descoberta de uma rocha firme na qual descobrimos que podemos ancorar-nos para enfrentar as tempestades da vida: uma experiência que, mesmo no sacrifício, nos torna mais fortes, porque mais conscientes de não estarmos sós. Por isso se diz que a dor traz sempre consigo um mistério de salvação, porque nos faz experimentar, de forma próxima e real, a consolação que vem de Deus, a ponto de «conhecer a plenitude do Evangelho com todas as suas promessas e a sua vida» (São João Paulo II, Discurso aos jovens, Nova Orleães, 12 de setembro de 1987).

2. E isto leva-nos ao segundo ponto de reflexão: o dom. Efetivamente, em nenhuma outra ocasião como no sofrimento, nos damos conta que toda a esperança vem do Senhor e que, assim sendo, é antes de mais um dom a acolher e a cultivar, permanecendo «fiéis à fidelidade de Deus», segundo a linda expressão de Madeleine Delbrêl (cf. A esperança é uma luz na noite, Cidade do Vaticano 2024, Prefácio).

Além disso, só na ressurreição de Cristo é que cada um dos nossos destinos encontra o seu lugar no horizonte infinito da eternidade. Só da sua Páscoa nos vem a certeza de que nada, «nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus» (Rm 8, 38-39). E desta “grande esperança” derivam todos os outros raios de luz com que se podem ultrapassar as provações e os obstáculos da vida (cf. Bento XVI, Carta enc. Spe salvi, 27.31). E não apenas isso, porque o Ressuscitado também caminha connosco, fazendo-se nosso companheiro de viagem, como aconteceu com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-53). À semelhança destes, também nós podemos partilhar com Ele as nossas perturbações, preocupações e desilusões, podemos escutar a sua Palavra que nos ilumina e faz arder o coração, e reconhecê-Lo presente ao partir o Pão, recolhendo do seu estar connosco, apesar dos limites do tempo presente, aquele “mais além” que, ao aproximar-se, nos restitui a coragem e a confiança.

3. E assim chegamos ao terceiro aspeto, o da partilha. Os lugares onde se sofre são frequentemente espaços de partilha, nos quais nos enriquecemos uns aos outros. Quantas vezes se aprende a esperar à cabeceira de um doente! Quantas vezes se aprende a crer ao lado de quem sofre! Quantas vezes descobrimos o amor inclinando-nos sobre quem tem necessidades! Ou seja, apercebemo-nos de que todos juntos somos “anjos” de esperança, mensageiros de Deus, uns para os outros: doentes, médicos, enfermeiros, familiares, amigos, sacerdotes, religiosos e religiosas. E isto, onde quer que estejamos: nas famílias, nos ambulatórios, nas unidades de cuidados, nos hospitais e nas clínicas.

É importante saber captar a beleza e o alcance destes encontros de graça, e aprender a anotá-los na alma para não os esquecermos: guardar no coração o sorriso amável de um profissional de saúde, o olhar agradecido e confiante de um doente, o rosto compreensivo e atencioso de um médico ou de um voluntário, o rosto expetante e trepidante de um cônjuge, de um filho, de um neto, de um querido amigo. Todos eles são raios de luz que é preciso valorizar e que, mesmo durante a escuridão das provações, não só dão força, mas dão o verdadeiro sabor da vida, no amor e na proximidade (cf. Lc 10, 25-37).

Queridos doentes, queridos irmãos e irmãs que cuidais de quem sofre, neste Jubileu, mais do que nunca, vós desempenhais um papel especial. Na verdade, o vosso caminhar juntos é um sinal para todos, «um hino à dignidade humana, um canto de esperança» (Bula Spes non confundit, 11), cuja voz vai muito além dos quartos e das camas dos lugares de assistência em que vos encontrais, estimulando e encorajando na caridade «a sincronização de toda a sociedade» (ibid.), numa harmonia por vezes difícil de alcançar, mas por isso mesmo dulcíssima e forte, capaz de levar luz e calor aonde é mais necessário.

Toda a Igreja vos agradece por isso! Também eu o faço e rezo por vós, confiando-vos a Maria, Saúde dos Enfermos, através das palavras com que tantos irmãos e irmãs, nas suas necessidades, se dirigiram a Ela:

À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus.
Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades,
mas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.

A todos vós, juntamente com as vossas famílias e entes queridos, vos abençoo e peço, por favor, que não vos esqueçais de rezar por mim.

Roma – São João de Latrão, 14 de janeiro de 2025

FRANCISCO

06.02.25

Pela sua segurança, não leia jornais


a. almeida

Pela imprensa ficamos a saber, entre outros mimos, que um grupo de encapuzados assaltou o cofre de uma dependência do Novo Banco, no Seixal, em 20 minutos. Os meninos de coro levaram 200 mil euros nos bolsos e sequestraram clientes e funcionários durante o divertido assalto.

Na outra margem, na Amadora, um homem foi executado com quatro tiros disparados à porta de ginásio na Amadora. Como nos filmes.

Para terminar o menú do dia,  o tribunal de Guimarães legitimou ofensas a terceiros. Ficamos todos a saber que mandar alguém para o "caralho", mesmo com a importância do presidente da Liga de Futebol, Pedro Proença.  é liberdade de expressão. Uma multazita manhosa, só para não abusar, mas nada que nos impeça de caralhar. O futuro presidente da Federação Portuguesa de Futebol será pessoa educada, parece-me, porque bem poderia aproveitar esta legitimidade de liberdade de expressão e exercitá-la começando por mandar quem tal ajuizou, para o alto do mastro, como quem diz, para o "caralho".

Sempre a aprender.

Como se vê, ainda vivemos num país seguro, sobretudo para quem não lê jornais e principalmente o Correio da Manhã.

28.01.25

Um ano de diário e o autor ainda menos novo


a. almeida

Há precisamente um ano, criei este blog, sem grandes expectativas de continuidade. Não antevia publicações regulares, nem temas ou tópicos que atraíssem seguidores e visitantes constantes — pelo menos em número superior ao dos deputados do Bloco de Esquerda, do PCP ou do PAN na bancada da Assembleia da República. Afinal, falar sozinho ou para os muros, mesmo que por escrito, é coisa de fé, para maluquinhos ou para judeus.

Além disso, com comentários abertos e a presença de gente simpática, inteligente e compreensiva, respeitadora de opiniões divergentes, sabia que não faltariam os habituais trolls e anónimos, uns mais do que outros, com ou sem pretexto. E não me enganei. Mas, mesmo assim, aguenta-se, porque até no meio do estrume nascem flores.

Apesar de tudo isso e da pouca expectativa, mesmo sem o vento estar a favor — nunca esteve —, a coisa foi indo. E aqui chegamos. Vale o que vale, e, ao iniciar um segundo ano deste diário, continuo sem convicção de que ele vá durar.

Apesar da pouca fé, quero expressar um voto de agradecimento aos leitores mais habituais e a todos que deram atenção a um ou outro texto, e até o marcaram como favorito. Bem hajam!

24.01.25

Uma Lisboa de fezes e urina


a. almeida

"Da RTP - Linha da Frente - Lisboa Infernal - Episódio 3 de 48 Duração: 30 min

São 10 da noite e Bairro Alto está transformado numa feira. Os bares concorrem entre si para ver quem vende mais álcool, desafiando os limites de quem passa. Em vez de copos, as bebidas são servidas em baldes.
Despedidas de solteiros, viagens de finalistas. Lisboa é a cidade onde se bebe até cair para lado. Em sentido contrário, algumas cidades europeias já adotaram medidas restritivas ao consumo de álcool em espaços públicos.
A zona de farra vai do Bairro Alto ao Cais do Sodré. Na famosa rua cor-de-rosa e nas imediações, a cada passo que se dá, o aliciamento para o consumo de droga é uma constante. O tráfico acontece às claras, para consumos dentro e fora das zonas de animação noturnas.
Droga, rixas, excesso de álcool, assaltos e até violações. Na noite de Lisboa, todos os dias acontecem crimes diários. Muitos não entram para as estatísticas.
O Linha da Frente testemunhou a insegurança e falta de policiamento, onde circulam milhares de turistas e ainda resistem alguns moradores.
"Lisboa Infernal" é uma investigação Linha da Frente da jornalista Sandra Vindeirinho, com imagem de Tiago M.P. Costa e edição de Carlos Felgueiras e Sousa."

Li e ouvi ontem. Não sou lisboeta nem tenho vontade de o ser, muito menos na condição de alguns, dos poucos que ainda moram naquelas zonas. Dizia uma corajosa moradora que aquilo era mais ou menos como "viver no Inferno".

Para além do que a RTP mostrou, e acredito que com alguns filtros, foi uma parte de Lisboa de "droga, rixas, excesso de álcool, assaltos e até violações", de vómitos, fezes e de urina. Mesmo que queira usar um substantivo fofinho para classificar esta parte de Lisboa, o que melhor me ocorre é "merda". Uma cidade de "merda".

Mas esta caótica ou entrópica situação nesta parte da capital, e haverá outras mesmo que fora dos holofotes, parece que não incomoda à Câmara, ao Governo ou mesmo às autoridades de Segurança. Não obstante, a polícia faz o que pode e não pode fazer muito porque se o faz em força para colocar a ordem e aplicar a lei,  "Ai Jesus e Deus nos acuda" e caem juntos  o Carmo e a Trindade. Logo nos dias seguintes convocam-se manifestaçãos canhotas a defender os direitos da estrumeira e dos frequentadores.

Assim, tudo é soft, diplomático, sem grande banzé, não vá a autoridade, a lei e a ordem enxotarem as moscas, nacionais e estrangeiras que gravitam ali naquele esterco cosmopolita.

Por enquanto, felizmente, vivo num cantinho sossegado, apesar de urbano, sem barulho pela madrugada fora, a não ser no dia de S. Julião, sem lixo, fezes e urina,  sem desordeiros a vomitarem à soleira da porta.

Melhor do que viver ali naquela pouco fresca folha da alface lisboeta, era viver numa pocilga. Podia não ser melhor o fedor nem a civilidade da clientela, mas certamente mais biológico, mais natura.

Bom fim de semana!