Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

25.11.24

Vinte e cincos, for ever!


a. almeida

Não vou dar-me a esse trabalho, de contar quantos, mas presumo que vários blogues darão enfoque ao que foi o 25 de Novembro de 1975. Uns a exaltar outros a menorizar. Sei, sabemos, que passam neste dia 49 anos sobre o acontecimento e importa dar-lhe lugar e lembrança. Para o próximo ano serão 50 anos. Merecerá uma celebração maior.

Não sou historiador mas sei ler, escrever, presumo, estudar e interpretar, para além de já andar pelo mundo nesse tempo. Por conseguinte, do que sei, o 25 de Novembro de 1975 não substituí, de todo, a importância que teve o 25 de Abril de 1974, porque esta resultou na queda da ditadura e da conquista do direito à liberdade, mas tem a sua própria, que foi a da consolidação da democracia e dos propósitos do 25 de Abril. Como o têm dito vários historiadores menos dados a alinhamentos, uma data não substituí a outra mas antes complementam-se, porque sem a de Abril não existiria a de Novembro e sem esta a outra teria sido um acontecimento em vão, inútil.

Fora desta realidade, com mais ou menos curvas, grupos dos 8 ou dos 9, com ou sem Mários Soares, Eanes, Carluccis e outros jokers da esquerda à direita, o acontecimento de Novembro de 1975 tem sido esgrimido de forma indevida, onde alguns partidos tentam apropriar-se da sua génese e outros procuram ignorá-la, retirar-lhe toda a importância, porque, percebe-se, as suas consequências, a clarificação e o encarreiramento na democracia, foram contrárias aos seus propósitos de estabelecimento de uma outra ditadura, agora de esquerda. Por eles seríamos uma Cuba na ponta da Europa, sem tirar nem pôr, quiçá uma Coreia do Norte ocidental.

Por conseguinte, sem surpresa, o PCP, partido cujos deputados cabem num Mini, vai ficar de fora da sessão comemorativa na Assembleia da República e mesmo o Bloco terá apenas uma sombra solitária a marcar o ponto. Também de fora, essa coisa designada de Fundação 25 de Abril. Como diz o ditado, "fazem tanta falta como uma viola num enterro".

Em todo o caso, esta dicotomia em torno das duas datas e dos correspondentes acontecimentos, têm feito  e continuarão a fazer parte da nossa História colectiva e mesmo do folclore político e ideológico.

25 de Abril, sempre! 25 de Novembro, for ever!

18.11.24

Nem Pilatos fez melhor


a. almeida

Tenho para mim que a ministra da Saúde, Ana Paula Martins,  bem como a da Administração Interna, Margarida Blasco, não têm condições de continuar em funções nos respectivos ministérios. Estar a segurar estas azelhas é para o Primeiro Ministro e para o Governo um factor de desgaste que não se justifica e com custos a jusante.

Apesar de tudo, tanto ou mais que esta óbvia azelhice, chateia a despudorada descaradeza e mesmo hipocrisia por parte de Pedro Nuno Santos e seus correligionários socialistas,  bem como dos partidos insignificantes que com ele geringonçaram quase uma década, como se nada tivessem a ver com este descalabro estrutural da Saúde, do INEM, e por aí fora. O barco há muito que mete água por todos os lados e com tantos buracos torna-se difícil acudir a todos quando faltam mãos e dedos, tanto mais desajeitados.

Parece-me, pois, que sobreetudo no caso da ministra da Saúde não será necessário vir a ser determinado o nexo de causa/efeito no atraso do INEM e falecimentos decorrentes, para que tenha que se demitir ou ser afastada.

Para além do mais, é perigoso este caminho de por si só relacionar mortes a atrasos no socorro, sobretudo em pessoas de idades avançadas e com patologias de risco, tantas vezes distantes dos pontos de socorro e unidades hospitalares, porque sempre aconteceram e acontecerão, mesmo que não com a gravidade do atraso ou mesmo falta de resposta dos casos agora em questão. Sempre que o socorro chega a um episódio de emergência será sempre especulável considerar se uma vida seria salva se a ambulância ou o helicóptero tivessem chegado mais cedo, 2, 5 ou 10 minutos ao local, ou depois ao hospital. Tem pouca seriedade quem ousar ter certezas a este nível mesmo que pela lógica todos saibamos que a rapidez com que se socorre em muitos casos faz ou pode fazer a diferença.

Infelizmente esta gente política não se manca, como se costuma dizer, e diariamente agem como se inocentes, como se durante as suas responsabilidades governativas e partidárias tivessem passado incólumes por entre os pingos da chuvada. Por mim vêm de carrinho, mas que irritam, irritam!

06.11.24

Ora bolas! A democracia outra vez a funcionar!


a. almeida

Ora bolas! A democracia outra vez a funcionar! 

Confesso que não me aqueceu nem arrefeceu, sendo que perspectivava a vitória da Kamala, desde logo porque tinha a seu favor os enormes defeitos do adversário, a generalidade da "boa imprensa", a classe artística e do showbiz, etc, mas não foram suficientes esses trunfos e as notícias e os analistas vão dizendo que o Donald venceu e de forma categória e vai ser, mais que no primeiro mandato, "dono daquilo tudo".

Por cá, a generalidade dos bota-faladura ficaram, naturalmente, com uma enorme azia e do que vão falando fazem-no como donos da razão, sentenciando que  foi uma má escolha.

Boa ou má, foi a democracia, mesmo que à americana, a funcionar. E assim será a não ser que, bem à portuguesa, surja uma petição de notáveis e guardiões dos bons valores, para levar à justiça todos quantos tiveram o descaramento de escolher o vencedor, a modos de se vencer pela justiça o que não se consegue nas urnas. 

Por enquanto é assim. Fora deste modelo, só mesmo à moda da China, Venezuela, Rússia, Coreia do Norte, Cuba, e outras que tais. Aí, sim, é infalível e ganha quem tem de ganhar, sem surpresas e a vontade de um ou poucos prevalece sobre todo o resto.

Vamos, lá, Catarinas, Mortáguas, Marisas, Fabians, Raimundos, Anas Sá Lopes, Leitões, e outros e outras que tais, carpir máguas e ódios. Podem vir chorar no meu ombro, no esquerdo, claro!

05.11.24

Peças do mesmo molde


a. almeida

Não sou o primeiro a afirmá-lo, nem, com toda a certeza, o último. Ainda agora e bem melhor que eu, o escreveu J. Rentes de Carvalho, patrão da barca do "Tempo Contado".

Mas, de facto, vivemos num tempo em que somos, literalmente, levados a acreditar no que nos impingem os senhores que, de um ou outro modo, vão sendo os "donos disto tudo", a começar pela comunicação social, esta há muito com a alma e o resto da mobília vendidas ao diabo, como quem diz aos interesses de grupos, agendas partidárias e ideológicas e lobies mais ou menos obscuros que com ares de quem nos governa e seriamente preocupados pelo nosso bem-estar geral, vão ditando as leis e impondo as regras e as modas, por mais estapafúrdias e wookianas que sejam. Por todos os meios procuram reescrever a História, rever livros, adoçar narrativas. Em suma, uma enorme lavandaria de cérebros menos dados a escrutínio proprio.

Por conseguinte, o mandá-los "à merdinha" ou a dar uma "volta ao bilhar grande" já não basta e porventura o melhor remédio será ignorá-los e continuar a pôr o pé fora das argolas com que nos tentam emaranhar.

Não obstante, a resmunguice mais ou menos resignada de uns poucos choca com a dimensão do rebanho que obediente segue os carneiros-mor. Alinham-se a passo milimétrico como a soldadesca de uma Coreia do Norte na parada militar perante o supremo morcão e líder Kim Jong. O rebanho exulta com as narrativas das supremas cabecinhas pensadoras e surfa na onda da aceitação de que o obsceno é normal e curriqueiro.

Discute-se no café ou nas redes sociais os principescos ordenados que se pagam a desportistas e acolhe-se a notícia de que um qualquer treinador porreiraço irá ganhar 8 milhões por época como se isso seja pouco mais que o ordenado mínimo de um qualquer pedreiro ou trolha. Mas aqui o treinador de quem se fala, é apenas um gota nesse oceano de obscenidade salarial e nem sequer é ele o culpado nem dos que mais ganha, longe disso. Têm-na, a culpa, na justa medida que temos cada um de nós, peças uniformes desta moderna sociedade. Nem mais nem menos!

Assim como assistir à carnaficina nas guerras, atentados terroristas e conflitos vários, vai-nos retirando sensibilidade  a ponto de aceitarmos estas situações e notícias com uma naturalidade de mansos e ordeiros como gado a entrar no matadouro.

Passamos há muito os limites da idade da inocência e já nada nos comove ou nos abala nos alicerces da nossa indiferença. Estamos no ponto! Cada um um pedaço de barro pronto a ser moldado, mas já não na roda do oleiro, mas para não haver peças únicas, apenas pela uniformidade de um molde. Todos iguaizinhos! 
Vamos, pois, andando neste turpor geral em que tudo continuará a ser mais do mesmo, expectável, previsível. 

Como escreveu o velho escritor e pensador "...só que o dito não é para aqui chamado, esse “à vontade do freguês” é modo de dizer, pois já não há freguês no sentido corrente. Nem sequer loja, mas estádios plenos de multidão entusiasmada, gritando e saltando ao mando do deejay, esquecida que é rebanho, e terminada a música, as luzes, o foguetório, a espera, o chicote e a mordaça."

31.10.24

Modernas inquisições


a. almeida

Essa queixa-crime contra dois deputados do Chega e um assessor que já reuniu mais de 100 mil assinaturas é uma palhaçada judicial de todo o tamanho, própria de quem não tem tradição democrática e procura, através do tribunal judicial, meter na prisão os adversários políticos, em lugar de os vencer no tribunal da opinião pública.
Tudo o que os deputados do Chega disseram (e o seu assessor também) é puro direito à liberdade de expressão, ampliado pela sua condição de deputados da Nação, e perfeitamente enquadrável na jurisprudência do TEDH sobre esta matéria.

[Pedro Arroja - Portugal Contemporâneo]

 

Palhaços e palhaçadas nunca hão-de faltar, sobretudo no nosso panorama político e politiqueiro. O difícil é escolher. E como de facto não somos todos criancinhas da pré-escola, não é preciso reunir um cento de mil assinaturas para achar tudo isto uma verdadeira palhaçada. Mas têm medo de quê esses subscritores? Que a democracia não funcione?  Vai daí, que a Justiça deva decidir o que não decide o povo nas urnas?

Por este andar, um dia destes juntar-se-ão mais 100 mil inquisitores a pedir para colocar na alçada da Justiça e na choldra todos os que tiverem a ousadia de votar no Chega. Já faltou mais! Terão prisões para tantos?

10.10.24

O Ofegante não casa com a Tranquilidade


a. almeida

Quem passa por aqui já terá percebido que é pouco ou nenhum o crédito que dou aos nossos políticos. Mas isso não é problema porque nunca lhes faltará quem os defenda, venere e siga, cegamente, clubisticamente. Apesar disso, de quando em vez lá vem uma ou outra medida mais ou menos acertada e assim me pareceu, agora, com as medidas que o Governo anunciou e quer implementar no sector da Comunicação Social. Escusado será aqui esmiuçá-las porque já o foram suficientemente por estes dias.

Ora como se esperava, eu pelo menos, o sector ficou todo incomodado e logo em seu apoio vieram as milícias habituais, incluindo os partidos cujos representantes no nosso parlamento cabem todos dentro de um Austin Mini. É o costume, dali não vem nada de novo e basta o Governo dizer seja o que for que daquelas bandas o entendimento será sempre em sentido oposto. O contrário é que seria surpreendente.

Mas se esta comichão que se fez sentir é normal nos tais sectores donos da verdade e guardiões da democracia, mestres sábios e com certezas absolutas no que é melhor para o país e para os  portugueses, incluindo os imigrantes, também não surpreende a reacção de muita da comunicação social, suas figuras e agentes. Efectivamente este sector não gosta que o abanem e sobretudo que lhes destape a careca. Ora podia lá ser, esta gente andar a ser comandada ao som de assobios e ordens superiores transmitidas por auriculares ou por whatsapp? Não! Nunca! Quando muito, o que pode e deve vir do Governo é apoios, dinheiro, quanto mais melhor. Aí, sim, saberão ser fiéis e reconhecedores da voz do dono.

Afinal de contas, esta coisa da ética e outras que tais, com que dizem que se devem reger os jornalistas e seus órgãos de comunicação, é conversa para adormecer macacos. Como lavar a cabeça a burros, é perda de tempo e gasto em sabão.

Assim sendo, lá vamos tendo um jornalismo e uma comunicação ofegante. Recomendações de tranquilidade não caem bem, porque não é com essas linhas com que se cozem os títulos e as notícias espampanantes. Pois não! Além do mais como é que os jornalistas e seus repórteres poderiam correr atrás das pessoas, das notícias, das intervenções, dos directos, de microfone na mão e câmaras aos ombros sem ficarem ofegantes? É que nem mesmo o melhor atleta de maratona!

Quanto à publicidade ou falta dela na RTP,  voltamos daqui a...15 minutos!

08.10.24

Direitos sem deveres nunca darão filhos


a. almeida

Há pouco, poucochinho, regressando de uma consulta médica no hospital, que havia sido adiada uma catrefada de vezes, na Antena 1, a propósito do problema social dos "sem abrigo",  de modo especial na capital, ouvia João Ferreira, do radical PCP,  que às tantas mencionava o "direito à habitação", plasmado na santa Constituição. E estava certo, pois este "direito", como outros, fazem parte do missal, mas também como uma daquelas coisas que em rigor não se cumprem. Há o direito à saúde e à educação e estas, em grande medida, continuam a ser pagas. Mesmo o que damos como gratuito é uma falácia porque na realidade pagamos com a alta carga de impostos (mesmo que nem todos). Por conseguinte,  não por falta de vontade do próprio Estado mas porque inexequíveis.

Afinal, quem deve garantir esse ou os outros direitos? O Estado, responderão, e pressupõe-se que sim. Mas quem é esse senhor Estado? Tem capital e vontade própria? Dirão que "o Estados somos todos nós". E é certo que sim. Mas então, replico eu, e porque é que eu, pela parte que me toca no bolo do Estado, tenho que garantir a habitação a terceiros? É que procurei, pelo trabalho, garantir a minha. Tenho, pois, habitação própria, que edifiquei com o dinheiro do meu trabalho,  também depois de ter adquirido terreno e ainda com o meu dinheiro. E com o meu dinheiro, e da minha esposa, ressalve-se por direito e justiça,  desde há quase vinte e cinco anos que mensalmente pago a prestação do crédito à habitação com os devidos juros, o que, diga-se, está na sua fase final e já a vislumbrar a luz ao fundo do túnel. Pago também o IMI ao senhor Estado, pela autarquia, como uma renda da minha própria casa.

Em resumo, porque é que eu, um simples e comum cidadão, ordinário, em linguagem comum, tenho que ao esforço de garantir por mim  a minha habitação, tenho que juntar o esforço de garantir pelo Estado a habitação a terceiros?

Tem, pois, muito que se lhe diga plasmar direitos à custa de terceiros e invocar esse direito como uma vaca sagrada. Fosse o país rico, com jazidas de petróleo, minas de diamantes e ouro, e talvez esse direito fosse justo e exequível, mas não, porque em rigor somos uns pobretanas a vivermos, no geral, acima das nossas possibilidades, com uma dívida pública que dizem que nunca será paga. Mas fica sempre bem à esquerda radical esgrimir o "direito à habitação".

Concerteza que a habitação deve fazer parte de um direito, que confere dignidade à pessoa, mas não no sentido  que quase sempre é invocado pela esquerda radical, que é o de dar o peixe já pescado, quiçá confeccionado, em vez de ajudar na compra da cana e anzol.   Por conseguinte, temos os direitos mas temos que fazer por eles e não esperar que nos caiam do céu sem as contrapartidas dos deveres. Ora direitos sem deveres é um casal que nunca dará filhos.