Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

17.01.25

Dia do corta-relvas


a. almeida

O responsável pela "cagada" política chamada "lei Relvas", que a toque-de-caixa da troika, como bom apanhador de sabonetes,  pretendeu poupar uns patacos a despeito da perda de proximidade entre eleitores e eleitos, veio agora, quando se prepara a aprovação da desgregação de pouco mais de um centena de uniões de freguesia, criticar a medida, no seu tom cáustico, no discurso do mancebo que na parada da tropa vai no seu passo considerando que todos a companhai marcha em desacerto.
Mais valia estar calado. Poupavam-se uma tonelada de impropérios a seu favor.


Se a sua lei ficou conhecida como "relvas", esta desagregação pode vir a chamar-se de "corta-relvas".
Se correr bem e do inquilino do palácio de Belém não vier uma mudança de humores, uma das freguesias contempladas será a minha.
Já estive a fazer as contas, e da anterior situação de 4 freguesias para ainda a actual união, com 10 mil eleitores, a poupança anual em abonos pagos aos eleitos (entre Junta e Assembleia de Freguesia) foi em 2024 de 7 mil e picos euros. É dinheiro, mas este valor potenciado às centenas ou milhares mete o Estado em empresas falidas e sem solução, como TAP, Bancos, etc. 

Mas, se de facto se verifica essa irrisória poupança, importa dizer que os eleitos, aqueles que devem estar ao serviço dos eleitores e assegurarem a tal proximidade que é uma das questões básicas e caras às freguesias que solicitaram a desagregação, é no contexto da união, menos de metade do que se verificava nas quatro freguesias separadas. Antes eram cerca de 40 e agora são 19. Em suma, para se poupar uns trocos, cortou-se no essencial, nas pessoas.

Mas é disto que se faz política. Podem considerar que esta questão da desagregação é quase paroquial, que não se justificava e tal e coisa, mas em rigor, o atarantado Relvas no tempo próprio não teve tomates para fazer o que com mais sentido se justificava, a da agregação de municípios, muitos deles com populações inferiores e 5 mil criaturas. Na verdade, 122 municípios têm menos de 10 mil habitantes e pouco menos que metade destes têm menos de 5 mil habitantes.

16.01.25

Imparidade fofinha


a. almeida

O que a auditoria forense apresentada pelo F.C. do Porto revela quanto aos negócios com a claque "Super Dragões", é que tudo aquilo era um esquema trapaceiro, manhoso, uma bandalheira, em que beneficiava um conjunto de arruaceiros, com os líderes à cabeça, em prejuízo do clube. Dizem, num eufemismo fofinho, que a coisa é "imparidade".
Mas nada que à época tal incomodasse, pois essa teia peganhenta servia como luva aos propósitos das duas partes, incluindo ao super presidente. Uma guarda pretoriana com os seus cães de fila custa dinheiro e merece prendas e recompensas, mesmo que tudo pago pelos outros, em última análise por quem aperta as contas domésticas para, em nome do fervor clubista, marcar presença nas bancadas.
Mas não será por isso que o ex-líder deixará de receber os devidos louvores, mesmo que já no cais de partida, como é da lei da vida. Até mesmo a macacada a seu tempo sairá em liberdade, pouco mais que beliscada, porque a selva é grande e sempre haverá espaço para acomodar mais um ou outro, e nela continuará a não faltar bananas e imparidade entre o que se produz e o que se recebe.
É o que é. No fundo é este um latido que passaria despercebido se o velho presidente não fosse casmurro a ceder o lugar, com isso deposto por algum sentido de lucidez na escolha,  mas entretanto a caravana passará e a água do tempo amaciará a pedra mais rugosa.
Esperemos que o novo presidente seja mesmo capaz de pôr ordem na casa, mesmo sabendo que isso tem custos que se pagarão a jusante, sobretudo se a macia almofada dos êxitos não for suficiente para abafar a tosse.

14.01.25

Um grande escritor


a. almeida

Sem perceber o verdadeiro alcance da questão, um visitante, no contexto de um anterior artigo relacionado com J. Rentes de Carvalho, que leio e aprecio, e que, por isso, tenho-o como "grande escritor", perguntava-me, nos comentários, o que era para mim "um grande escritor".

A resposta adequada dependeria sempre do propósito da pergunta, porque esta poderia ter implícita alguma ironia, crítica, contradição, etc. Poderia ser uma pergunta introspectiva ou meramente inocente. Por isso, mereceria uma longa e explicativa resposta ou apenas um gracejo curto e grosso.

Em todo o caso, e em sentido geral, parece-me que classificar um autor como "grande escritor" pode significar várias coisas, dependendo do contexto e dos critérios utilizados. Essa expressão carrega uma dimensão subjectiva e, ao mesmo tempo, associa-se a certos padrões amplamente reconhecidos. A seguir, algumas interpretações possíveis:

Qualidade Literária
Um "grande escritor" é frequentemente associado à excelência na qualidade da escrita: estilo sofisticado, originalidade, criatividade e habilidade técnica no uso da linguagem, conseguindo transmitir ideias, emoções e histórias de maneira cativante e inovadora, mostrando um domínio do ofício.

Impacto Cultural
Um escritor pode ser considerado "grande" pela sua influência duradoura na cultura, moldando a literatura ou a sociedade de forma significativa.
Os seus trabalhos, as suas obras, frequentemente transcendem gerações, sendo lidos, discutidos e adaptados em contextos variados.

Profundidade Temática
Um grande escritor é, muitas vezes, aquele que aborda questões humanas, sociais, políticas ou filosóficas de maneira profunda e universal.
Pode iluminar aspectos da condição humana que ressoam em diferentes épocas e culturas.

Reconhecimento Crítico e Popular
A obtenção de prémios, aclamação recorrente da crítica e impacto na academia literária podem contribuir para classificar alguém como "grande escritor".
Entretanto, também se reconhecem escritores cujas obras, em diferentes tempos, lugares e contextos, atingiram grandes públicos e se tornaram clássicos populares.

Inovação e Originalidade
Um grande escritor pode ser aquele que desafia convenções literárias, introduzindo novas formas, estilos ou géneros que revolucionam a literatura.

LIgação com os Leitores
A capacidade de criar personagens memoráveis e histórias que ressoam emocionalmente com os leitores é uma característica marcante.
Mesmo escritores que não seguem convenções podem ser considerados grandes pela forma como cativam os seus leitores.

Legado
O tempo é frequentemente um critério decisivo: um grande escritor é aquele cuja obra permanece relevante e admirada mesmo após a sua morte. Não nos faltam exemplos a nível mundial e mesmo em Portugal.

Em resumo, chamar alguém de "grande escritor" é, muitas vezes, reconhecer uma combinação de habilidade técnica, profundidade temática, impacto cultural e legado duradouro. A subjectividade está sempre presente, pois os critérios podem variar entre leitores, culturas e períodos históricos.

Não obstante, o que é, para muitos, um "grande escritor" para muitos outros nada diz. Por exemplo, mesmo tendo sido reconhecido com o Nobel da Literatura, não consigo ler nem apreciar a obra de Saramago. E mais exemplos poderia citar.

Em suma, um grande escritor é, sobretudo, aquele que nos diz algo da forma como melhor o sentimos. Neste sentido, e independentemente do que possam dizer os entendidos e analisar os críticos, repetindo-me, tenho como "grande escritor" J. Rentes de Carvalho. Uma folha com uma sua crónica ou um curto apontamento de diário diz-me mais do que um calhamaço de Rodrigues dos Santos.

Sei que ainda é desconhecido, não faz parte dos círculos dos experts, nem é de esquerda, o que não o ajuda no nosso meio, mas basta-me que seja o que é, sem tirar nem pôr.

10.01.25

Entre o Mendes e o Seguro, o almirante


a. almeida

Creio que já o disse por cá, é meu propósito, a seu tempo, não contribuir para este peditório,  mas mesmo que, entre os putativos candidatos a candidatos a presidente da nossa república, tenha que vir a escolher entre Marques Mendes e António José Seguro  (este que até me merece uma boa consideração), não tenho dúvidas que optarei pelo almirante, o  Gouveia e Melo. E não seria por muito, mas apenas por  não ser político. Faz toda a diferença.

10.01.25

Casos, casinhos, surfistas e paredes


a. almeida

Cavalgando a onda da demagogia e do mais reles aproveitamento político, tão caro aos nossos extremos políticos, lá vamos ter uma coisa chamada tipo manifestação baptizada de  "Não nos encostem à parede" . Até parece que vai haver um simulacro da coisa. Do outro lado da rua, também o Chega vai chegar-se com uma manif dentro do estilo demagógico.

Pelo que diz a imprensa, o socialista presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior recusa alinhar na iniciativa, apoiada ao mais alto nível no PS, porque considera que foi capturada por "wokistas de esquerda", que a querem transformar num "ataque à polícia". 

Tem toda a razão, mas quem se importa? Essa malta ía lá perder esta oportunidade? Alguns, uma vez encostados à parede, nem se importariam que se lhes baixassem as calças, mas aí a coisa já será do foro pessoal e cada um faz o que gosta.

Por outro lado,  mas nesta onda de patetices, que por cá também têm pasto e combustível para queimar com fartura, parece que o tribunal ordenou que o Parlamento mude o nome da Comissão de Inquérito Parlamentar ao caso das gémeas brasileiras. Segundo ouvi ontem o advogado da causa, o nome actual estará a expor as crianças e a violar a sua intimidade. Confrontado, e bem, com a facto da própria mãe fazer precisamente isso no Instagram, expondo as filhas com todo o requinte e pormenor, e certamente com algum retorno, a coisa apresenta-se, se não paradoxal, pelo menos com uma falta de vergonha a todos os níveis, mas que se sabe que encontra eco e poiso na justiça. Quanto ao advogado, como todos, defendem, tantas vezes, o indefensável, mesmo que, neste caso, com uma argumentação patética perante a contradição da exposição nas redes sociais.

Assim, lá terá que ser mudado o nome como se isso de facto vá resultar em qualquer percepção contrária. Mas pelo sim pelo não, caso falte imaginação aos responsáveis na escolha de outro nome para o caso, posso sugerir alguns, como, por exemplo, "Não chamem os bois pelos nomes", o caso "As cunhas do filho ao pai e do secretário ao hospital",  o caso " Não se pode dizer o nome", o caso "Quem não chora não mama!" e finalmente, o caso "Não se pode fazer concorrência ao Instagram da mãe".

Boa sexta-feira e BFS! ...e quem quiser ser encostado à parede, que apareça, que não há perigo de fuzilamento nem de baixar as calças. It's all fun!

09.01.25

Moçambique - Senhores dos seus destinos


a. almeida

A situação que se vive em Moçambique é dramática e profundamente triste, mas em nada surpreendente, porque foi sempre previsível desde que apressadamente, como às demais ex-colónias,  lhe foi dada a independência. Lutaram os seus povos por ela, morreram eles e morremos nós, e passados 50 anos constatamos como foi totalmente desperdiçado esse sangue e, com exceção de poucos, os que dominam o poder e a teia de corrupção, o povo sofre e vive miseravelmente.

Guerras civis, destruição, brutalidade, instabilidade, democracias frouxas e manipuladoras, sistemas autoritários, corruptos e presos aos lobbies criminosos, desde os poderes políticos e judiciais. Todos os ingredientes para este caldo que agora ferve e que, num turbilhão de violência e mortes, vai estando na ordem do dia.

O papel de Portugal tem sido triste, frouxo, a condizer com o processo de descolonização e independência, sempre ao lado do sistema corrupto e com falinhas mansas, lugares comuns e palavreado diplomático que, para o caso, vale zero. O que nasce torto...

Em todo o caso, mesmo que tragicamente, é este o destino que escolheu Moçambique e as demais ex-colónias. Desde as independências que estes países são senhores dos seus destinos. A nós, portugueses, resta-nos assistir e desejar melhores dias, sabendo que, pelo historial, será coisa impossível. Afinal, em 50 anos nunca conheceram outra realidade.