25.12.24
Lomba - Arões - Vale de Cambra
a. almeida
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25.12.24
a. almeida
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15.11.24
a. almeida
Alguns poucos, dos muitos, olhares de uma parte da serra de Arada, a sudeste da serra da Freita. Aldeias do Candal e Póvoa das Leiras. Estas e outras paisagens podem ser vislumbradas e saboreadas no percurso do trilho PR2 de S- Pedro do Sul - Rota das Bétulas. Já o percorri duas vezes, em diferentes alturas do ano.
13.09.24
a. almeida
Em 1960 ainda não era eu nascido e por isso não tive como testemunhar a suposta primeira chegada ao alto do Monte de S. Macário (freguesia de S. Martinho das Moitas eCovas do Rio do concelho de S. Pedro do Sul) do primeiro automóvel conduzido por um tal de José Inácio Coelho, precisamente no dia 29 de Maio desse ano.
Pode até ter havido um intrépido piloto a realizar a façanha bem antes, mas não teve a pioneira ideia de registar o acontecimento numa lápide de mármore e encravá-la no duro granito da serra. Assim o mérito ficou do Coelho, de resto um animal bem adaptado a esta serra agreste, uma elevação com 1052 metros de altitude máxima junto à capela e que se localiza a pouco mais de 10 km a norte de São Pedro do Sul.
Já lá fui estive várias vezes, uma delas não de mota mas de bicicleta, em pleno Verão, sozinho, por isso sem testemunhas e ainda por cima com o telemóvel sem bateria para registar o acontecimento. Foi uma jornada e tanto.
Quem ali vai pode sempre aproveitar para visitar alguns dos belos sítios da Serra da Freita e Arada e todas aquelas belas e ermas aldeias alcondoroadas aos rios Frade, Paiva e seu afuente Paivô. Para além de Rio de Frades, Covelo de Paivô, Regoufe e Pena (onde se pode bem almoçar), Covas do Monte e Covas do Rio, ainda Drave, Gourim, Ponte de Telhe, Janarde, Meitriz, Fujaco, Coelheira, Póvoa das Leiras, Candal, Cabreiros e outras, mais próximas entre si ou nem por isso.
Sem pretenciosismos, direi que já quase conheço estes lugares quase como as próprias mãos.
06.09.24
a. almeida
Sabemos que há quem goste de viver à sombra dos outros, vivendo bem à custa do suor alheio. Os exemplos são mais que muitos e não é preciso ir a Marte para os encontrar, por mais disfarçados que por aí andem, mesmo que sem qualquer aparente assomo de vergonha ou decoro na exibição de riqueza.
Não falta por aqui e por ali, gente a vender cabritos sem que tenham cabras. Pessoalmente conheço uns poucos, como o patrão do Chico que lhe deve já uns bons milhares, mas faz-se andar de Mercedes, enquanto ele, o empregado, vai andando no seu carrito a passar dos 20 anos. Vai aguentando o Chico, na perspectiva de um rebate de consciência ou de vergonha do patrão, mas vai sendo tempo perdido e inglório porque quanto mais aguenta mais cresce o fardo do calote. Já foi condenado, o chefe, por incumprimentos às finanças e segurança social, mas em vez de o remeterem para a sombra dos calabouços, vão-lhe dando consecutivas oportunidades a troco de uns planos de pagamento, que quase sempre falha, e assim vai andando entre os pingos da chuva e a exibir boa vida.
Mas há igualmente quem precise da sombra apenas como uma bem natural, para sobreviver às agruras de um sol tórrido, como em plena serra do Montemuro. Ali, na sombra norte de uma capelinha tão solitária quanto desolada, um grupo de cabras e ovelhas parece que reza encostado a uma qualquer parede sagrada, mas na realidade, apenas a proteger-se da inclemência do nosso astro-rei.
Por esses lados, a natureza maravilha-nos com a abrangência da paisagem e do horizonte, mas não é de meias medidas no castigo, e ora fustiga com calor, ora castiga com vento, frio e neve. Sem a sorte de um cãozinho ou gato de estimação, é este o destino de alguns animais, por mais adaptados que estejam a esses lugares.
Porventura a vida será boa para alguns cabrões, mas não para estas e outras cabras. Valha-lhes S. Cristóvão e a abençoada sombrinha da sua capela!
05.09.24
a. almeida
Aldeia da Pena, freguesia de Covas do Rio, concelho de S. Pedro do Sul.
Uma aldeia de xisto onde dizem que regularmente apenas vivem sete pessoas. Uma jóia perdida e à qual não é fácil chegar. Basta pensar que, vindos de Arouca, tem que se passar pelo Portal do Inferno e contornar penedos e escarpas. Mas vale a pena o esforço, as vertigens e as mãos suadas pelo “cagufe”, para quem ali quiser comer, cabrito ou vitela, um ambiente rústico à sombra do xisto e da ramada de videiras. Nem sempre a coisa corre bem, como já me aconteceu, porque a conta demasiado alta para um bife deixado torrar, mas em regra não corre mal.
Claro está que uma vez chegados ali, é bem possível que se tenha já visitado Rio de Frades ou Regoufe, por onde em tempos de guerra as montanhas foram esventradas em procura do minério volfrâmio. Outras histórias...
Certamente, porque próximo, que não se deixa de subir ao altaneiro monte de S. Macário (mesmo que abadalhocado com antenas) e de regresso por várias outras aldeias típicas, mesmo que não à mítica e misteriosa Drave que só por si merece um dia e não é de pópó que lá se chega, todas encastradas nas encostas da Freita e da Arada, serras tão bonitas e imponentes que não desmerecem de Estrelas e Marões, como Covas do Monte, Covas do Rio, Fujaco, Gourim, etc.
Mas quem for gente de praia, de planinhos e de paisagens urbanas, por favor, não vá!
01.09.24
a. almeida
Quem já leu e (como eu) releu o “As cidades e as serras”, de Eça de Queiróz, sabe do que falo e do que o trecho a seguir se refere. Relembrando, a descrição do caminho da personagem Jacinto, que vindo do ninho da civilização expressa no seu áureo ponto na cidade das luzes, Paris, decide rumar à austera e velha Quinta de Tormes, um lugar imaginário mas que se refere à Quinta de Vila Nova, localizada por terras de Santa Cruz do Douro – Baião.
Descarregado na estação de comboio em Aregos, na borda do Douro, inicia o caminho sinuoso e íngreme com uma extensão de aproximadamente 4 km, por entre casario e vegetação, e o homem sedentário de Paris, rodeado de todo o conforto civilizacional de que dispunha à época, entra agora num mundo natural, puro, agreste, quase primordial, onde a natureza e a forma de viver simples mostram que a ligação ao homem contém ainda todo esse enraizamento. E nessa simplicidade, que o destino se encarregou de endurecer, perceberá, como irrefutável, a presença dos símbolos de abundância e da vida saudável associada à vida rural.
Nesta pausa estival, fui, também, percorrer esse mítico e real caminho e mesmo que o grande escritor por ali pouco tempo tivesse estado, porque cedo morreu, foi com ele o sonho de transformar a velha casa no seu derradeiro aconchego maternal, que literalmente nunca teve.
Felizmente, a sua filha e a descendência desta, até também se extinguir, conseguiram mitigar esse sonho, transformando a antiga Quinta de Vila Nova, que a ficção transformou numa nova realidade, a Casa de Tormes, num lugar de evocação do escritor. Sem descendência, o legado que engloba a quinta, a casa e muitos objectos pessoais dessa grande figura da nossa melhor literatura, que vieram de Paris depois da sua morte, foi deixado a uma fundação com o nome do autor de Os Maias (1888), O Crime do Padre Amaro (1876), O Primo Basílio (1878), A Capital (1877), entre outros, e criada para o efeito.
Assim tive a oportunidade de visitar a casa, o espaço e tocar em objectos que o escritor usou no seu dia a dia de diplomata e escritor.
Uma rica experiência, a que se juntaram outras e numa prova provada que importará sempre que um simples passeio ou singela estadia tenha um sentido complementar de enriquecimento de cultura e história.
Claro está que as tendências e os gostos modernos não se compadecem com estas “minudências” e de tão atrofiantes essas generalidades, acabam por criar nos outros, poucos, uma sensação de anacronismo, até de um deslocamento no tempo e espaço.
Mas que seja! De resto sempre houve e haverá lugar para tudo e todos, além de que um balão sempre subirá mesmo que cheio de nada, tão somente de ar quente.
Seguem os extractos desse trecho de “As cidades e as serras”:
“E não tardaram a aparecer no córrego, para nos levarem a Tormes, uma égua ruça, um jumento com albarda, um rapaz e um podengo. […] E começamos a trepar o caminho, que não se alisara nem se desbravara […] logo depois de atravessarmos um a trémula ponte de pau, sobre um riacho quebrado por pedregulhos. […] E em breve os nossos males esqueceram ante a incomparável beleza daquela serra bendita!” “Jacinto adiante, na sua égua ruça, murmurava: - Que beleza! E eu atrás, no burro de Sancho, murmurava: - Que beleza! Frescos ramos roçavam os nossos ombros com familiaridade e carinho. Por trás das sebes, carregadas de amoras, as macieiras, estendidas ofereciam as suas maçãs verdes, porque as não tinham maduras. […]
Muito tempo um melro nos seguimento, de azinheiro a olmo, assobiando os nossos louvores. Obrigado, irmão melro! Ramos de macieira, obrigado! Aqui vimos, aqui vimos! E sempre contigo fiquemos, serra tão acolhedora, serra de fartura e de paz, serra bendita entre as serras! Assim, vagarosamente e maravilhados, chegamos àquela avenida de faias."
28.08.24
a. almeida
A minha carteira não tem fundo tal que permita empreender jornadas de férias espampanantes, daquelas que a malta não perde a oportunidade para se enquadrar com panos de fundo mais ou menos típicos que ninguém desperdiça para marcar o ponto, seja com a férrea torre Eiffel, com os vetustos palácios de Buckingham, Real d'O Pardo, os antigos e clássicos Partenon ou Coliseu, mais exoticamente com as pirâmides de Gizé ou numa sintonia espiritual com as grandes catedrais góticas de Notre-Dame, Colónia, Sevilha ou a estapafúrdia criação de Gaudi na Sagrada Família. A lista desses lugares circundados por um turismo de massas é extensa, tanto na velha Europa como noutras latitudes, aquém e além mares.
Mas tivesse eu tal carteira e creio que mesmo assim, a pouco paciência que a idade nos retira para enfrentar um emaranhado de procedimentos burocráticos, movimentos aeroportuários, cargas e descargas, check-ins e ckeck-outs, seria mais que suficiente para refrear ânimos e amolecer vontades.
Posto isto, sempre assim foi e continuará a ser, cada um fará o que melhor lhe aprouver e mesmo que em rigor não possa, para isso é que existem créditos na Banca e de pouco importa fazer contas às contas porque o futuro é já amanhã. O senhorio que aguente os cavalos, as operadores podem esperar mais uns dias, o mecânico umas semanas e para a dentista, é mais dente menos dente. Férias à Lagardere é que não se dispensam.
Assim, de perna curta e carteira apertada, vamos saltando aqui e ali e em vez de uma Notre-Dame abeirámo-nos de um Mosteiro de Santo André de Ancede, em vez de gondolar pelos canais de Veneza moliçamos pelos de Aveiro, no lugar da conservadora Tower Bridge atravessamos a elegamte de Mosteirô e em vez de ouvir as horas pelo Big-Ben, o relógio da estação de Aregos também tem horas certas.
Mas uma saída, para não lhe chamar indevidamente viagem, mesmo que mais ao perto que ao largo, é sempre mais que as coisas que se veem, a gastronomia que nos vem ao prato e a maciez da cama onde se repousa. É mais, muito mais que isso, mas já quanto à sensibilidade para o Zé da Esquina ser capaz de ler essas entrelinhas, a coisa pia mais fino e até a espiritualidade de um fino fresco por fora e por dentro, ali a saciar na esplanada rodeada de Douto contido em margens altas de verde, é melhor nem falar porque pior cego é o que não quer ver.
Numa dessas entrelinhas, num excelente restaurante, com vista para uma boa nesga de Douro, com um bom ambiente onde não há televisão a passar Gouchas e trouxas, nem a música da Rádio Festival, a afável menina fez-nos sentir como se num chique restaurante de Paris, mas queixava-se, a prevenir, que o serviço poderia atrasar um pouco porque para além do chef, só mesmo ela para todo o resto do serviço e ainda um balcão de café. Como fomos dos primeiros, o serviço foi rápido e como era casa com licença certificada para a oferta de vitela arouquesa, a coisa correu bem, deliciosamente e com um custo justo e adequado. No final, a acompanhar a generosa gorjeta, a promessa de voltar num dia destes quando os bombeiros estiverem sossegados nos quarteis e as cores dos avisos meteorológicos andarem pintados de verde.
Mas então ia eu deixar de saber o porquê de apenas uma funcionária para tanto serviço e clientela bastante e requintada numa altura destas que a malta diz de época alta? Explicou-se que de facto por ali não conseguem arranjar alguém que queira trabalhar, mesmo a tempo inteiro, nem sequer brasileiros ou marroquinos porque esses, vá lá saber-se por que razões, gostam é do litoral. Além do mais, mesmo de três ou quatro colaboradores habituais, todos se escusaram a trabalhar nesta altura, recusando os encarecidos pedidos, mesmo que com a devida antecedência e remuneração compatíveis
Mas os dados estatísticos e o senhor INE dizem que o desemprego está a aumentar e que os jovens, coitados, não conseguem emprego.
O INE não quer saber as razões no terreno e apenas interpreta números e ignora que muitos dos que estão nas listas do desemprego, na realidade não querem trabalhar, muito menos em serviços que sabemos que têm horas muito específicas. Assim, vamos fazendo de conta que não há empresas a precisar de funcionários, seja nesta área da restauração e turismo seja a trolhas ou pedreiros. Na realidade, emprego talvez procurem mas não trabalho. Não trabalhar parece que é mais rendoso e quando o Governo diz que vai fazer com que ninguém no desemprego ganhe mais que empregado, aqui del-rei que é uma injustiça!
Ainda hoje, já de regresso, no parque de estacionamento de uma média superfície comercial cá da zona, um jovem casal, com cores de gente de outras latitudes, andava a abordar os clientes na pedinchice e usando uma bebé como isco. Ambos jovens, com bons corpos, qualquer um deles capaz de ser trolha, pedreiro ou servente de mesa ou ajudante de cozinha, mas nada. São bem mais rentáveis estes expedientes e ficamos sempre sem saber se estão por cá de forma legal e se orientados pelas autoridades e se fazem parte ou não das estatísticas que dizem que há desemprego.
Por mim, batam-me à porta e, intermediando, amanhã mesmo arranjarei trabalho para vários trolhas e pedreiros, bem como poderei dar o contacto do tal restaurante que não consegue gente para servir, fritar batatas ou limpar louça, tachos e panelas. Mas não digam nada ao INE, para não lhes baralhar as contas.