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Diário de quem já não vai para novo

...e sem paciência para seguir o rebanho.

Diário de quem já não vai para novo

...e sem paciência para seguir o rebanho.

11.04.25

"Eu sou africana, tou-me a c.gar..."


a. almeida

Uma tal de Eva, ou Eva Cruzeiro, ou Eva Rap Diva, é umas das candidatas do Partido Socialista às próximas Legislativas.

Há aqui uns dois anos e picos, numa "epifania", disse cantando, ou cantando a dizer, “Eu sou africana, tou-me a cagar para a guerra na Ucrânia. Esses gajos que se matem como nós nos matamos. Eles não se importam connosco, então, nós não nos importamos. Eu sei que isso se cair na net, muitos vão começar a falar mal, mas não me compete agradar a toda a gente.

Se a nossa classe política anda muito por baixo, a ponto de ainda hoje ter ouvido na rádio alguém dizer que "tem sido um tormento assistir aos debates"  - e a procissão ainda vai no adro - estas escolhas ajudam, em muito a explicar o quão penoso é dar-lhes algum crédito.

Mas se alguma coisa se consegue extraír desse dejecto saída da boca da susposta rapper, é alinhar na mesma linguagem "artística" e também dizer que, "estou-me a cagar para este tipo de candidatos, e de modo mais grosso para quem lhes dá crédito e cobertura a ponto de os propor a serem pagos pelos contribuintes.

Há limtes à decência ou à falta dela.

10.04.25

O Preço Incerto - Um concurso com singularidades


a. almeida

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O concurso televisivo "O Preço Certo" é por demais conhecido, dispensando grandes apresentações. Estreou-se na RTP na década de 1990 e, desde 2003 até hoje, é conduzido por Fernando Mendes, actor e comediante que assumiu o papel de apresentador. Antes dele, o programa foi apresentado por Carlos Cruz, Nicolau Breyner e Jorge Gabriel. No entanto, foi com o “baixinho e gordinho” — hoje ainda baixinho, mas já bem menos gordinho — que o programa ganhou uma nova vida, subindo em popularidade e tornando-se líder de audiências no seu horário. Todas as tentativas da concorrência em o destronar, deram barrete.

Vai para o ar antes do Telejornal da RTP1, de segunda-feira a sábado, com direito a inúmeras repetições — um verdadeiro filão sem fim.

A receita é conhecida e os ingredientes mantêm-se: prémios abundantes e apetecíveis, muitas vezes literalmente oferecidos com a ajuda do Mendes, figura carismática e popular, por vezes exageradamente cómica. Duas belas assistentes femininas — que funcionam sobretudo como “jarrinhas” e modelos de roupa (por vezes demasiado reduzida) — e um simpático assistente negro, cumprindo o requisito da diversidade como é politicamente correcto, que dança com senhoras da plateia e come bolos de uma bocada. Para completar o quadro, há espaço para actuações musicais, geralmente de artistas do género pimba, o que encaixa perfeitamente no espírito do programa. O Miguel Vital, figura simpática, faz de speaker e de DJ mestre a passar música pimba.

Como diz o ditado, "em equipa que ganha não se mexe", e assim tem sido ao longo dos muitos anos. Não há como negar: o concurso é popular. E eu, que o vejo muitas vezes porque a patroa não o dispensa enquanto prepara o jantar, reconheço que é um entretenimento diário para uma vasta audiência, maioritariamente composta por pessoas mais velhas e reformadas — o que lhe confere até um certo papel social. Gente de várias idades, mas sobretudo mais velhos, de vários estatutos e profissões, dos aprumados e contidos até aos mais espalhafatosos e "cromos". Há de tudo e, regra geral, os mais "cromos" acabam por ser os mais sortudos ou mais ajudados pelo apresentador.

Contudo, apesar de ser um concurso, há particularidades que tornam difícil considerá-lo um verdadeiro modelo de equidade e igualdade de oportunidades. Por exemplo: em cada emissão participam seis concorrentes, mas apenas quatro, os chamados na primeira ronda, têm três oportunidades de acertar no preço do primeiro produto, o que lhes permite avançar no jogo. Outro, na segunda ronda, tem apenas duas hipóteses e o chamado na útlima ronda só tem uma hipótese. Embora esteja nas regras, e não raras vezes o útlimo chamado ainda vai a tempo de ganhar, convenhamos que é uma lógica esquisita, injusta e desproporcional. Adequado seria que os seis fossem todos chamados em simultâneo e assim com as mesmas possibilidades de avançar para a montra final.

Outro ponto curioso: sendo o programa chamado "O Preço Certo", a lógica do primeiro palpite está longe de premiar quem mais se aproxima do valor real. Se um produto custa 50 euros e um concorrente palpitar 51, enquanto outro 15, ganha este — mesmo estando muito mais longe — porque, segundo a regra, não se pode ultrapassar o preço. Esta regra, embora aceite, é manifestamente absurda. Seria mais justo vencer quem mais se aproximasse, independentemente de ter ultrapassado o valor, e apenas em caso de empate poderia aplicar-se a regra de "não exceder".

Mais uma: no jogo da roda, o primeiro concorrente gira com o marcador no 100, mas os seguintes já começam do ponto onde a roda parou anteriormente — o que desvirtua o princípio da igualdade de condições mesmo que pela lei de probabilidades vá dar ao mesmo, digo eu.

Também não esquecer a parte em que muitos dos concorrentes dão mais do que o que recebem, já que tantas vezes vão carregados de prendas e lembranças, desde bonés e galhardetes da associação da aldeia até leitões inteiros, charcutaria, doçaria e caixas de vinho. É um exagero que mostra o lado pitoresco do concurso e, já agora, da generosidade dos portugueses, sobretudo dos que vêm de longe e do interior, mas, não havia necessidade. Para além de tudo, não raras vezes, que oferece esses produtos, recebe alguma desconsideração por parte do apresentador, fazendo cara de aborrecido ou entediado.

Para terminar, o concurso, em rigor, já deixou de o ser. Muitos prémios são simplesmente oferecidos, com o apresentador a sugerir diretamente as respostas certas, do tipo: “É verdadeiro... ou verdadeiro?” ou a dar pistas demasiado óbvias. Sabemos que é tudo em tom de brincadeira, puro entretenimento — ainda que financiado, em parte, com dinheiro dos contribuintes, porque numa estação pública,  mas que tem as suas singularidades, tem.

21.03.25

Cola dos ratos


a. almeida

E pronto! O ilustríssimo Dr. Fernando Gomes, depois de esgotada a comissão na choruda Federação Portuguesa da Bola lá arranjou mais uma poltrona no Comité Olímpico de Portugal.

Esta gente apega-se às mordomias e depois não quer outra vida. Parece que tem cola de matar ratos nas solas. Depois o que seguirá? A Federação Portuguesa de Matraquilhos ou a Federação Portuguesa do Jogo do Cantinho? 

É uma pena, pois por aqui a nossa Associação do Centro Social está sem corpos directivos e assim apenas com uma Comissão Administrativa, como recurso, e por mais que se marquem eleições não há fernandos gomes que queiram o cargo. Porque será?

26.02.25

A língua que nos deram


a. almeida

Perdoar-me-á, o J. Rentes de Carvalho, mas não resisto a reproduzir na íntegra uma das suas pérolas da escrita e pensamento. De resto, é por uma boa causa, porque de facto andamos , de há muito, a cavar nesta imbecilidade de usarmos os inglesismos por tudo e por nada, não só na fala e na escrita, como nas parangonas dos títulos ou designações de eventos. Cada tiro cada melro, cada cavadela, cada minhoca. Somos uns tristes e nma miséria que não se compreende com a riqueza da nossa língua, de Camões, de Eça, de Pessoa, de Torga e tantos, tantos outros. De facto gostamos de usar fantasias carnavalescas que nos ficam curtas nas mangas e com isso, mesmo em Carnaval, ficamos ridículos.

 

"A língua que nos deram

Todos conhecemos momentos em que se hesita entre a gargalhada e o choro, mas não são esses os piores. Ruins mesmo são os que enfastiam e nos deixam num estado de prostração, porque pôr o dedo na chaga de nada adianta quando sabemos que nos falta remédio para ela.

Vem isto a propósito do fenómeno generalizado e nacional do arroto de postas de pescada no que toca o uso a língua inglesa. De doutor a semi-analfabeto há uma rapaziada a quem se lhes meteu na cabeça que a demonstração de ser fino, sabido, pertencer aos eleitos, à fina-flor, não dispensa umas pazadas de Inglês. E vá de arrotar. Ora em exclamações, ora citando meia página de Shakespeare, umas frases de Johnson, às vezes lavra própria, causando arrepios a quem sabe da poda e se pergunta se aquilo é sintoma de doença.

Porque doença é, e uma forma de pobreza. Nada mais deprimente do que ver alguém, julgando que bota figura no carnaval da intelectualidade, usar uma fantasia que lhe fica curta nas mangas.

Oiça, mesmo na forma simples e popular, a sua, a nossa língua-mãe é tão rica que lhe permite exprimir adequadamente, e até com elegância, os seus sentimentos, conviver, comunicar impressões, participar no trato social. Quer mais? Abra os ouvidos. Ainda há gente a falar um Português correcto. Quer apurar o vocabulário e o estilo? Tem aí Fernão Lopes, Vieira, Camões, Bocage, Fialho, Eça, Pessoa, tantos outros. Leia.

Mas por favor, caia em si, poupe-nos o espectáculo, não se envergonhe de quem é, de quem somos, da língua que nos deram."

J. Rentes de Carvalho