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O concurso televisivo "O Preço Certo" é por demais conhecido, dispensando grandes apresentações. Estreou-se na RTP na década de 1990 e, desde 2003 até hoje, é conduzido por Fernando Mendes, actor e comediante que assumiu o papel de apresentador. Antes dele, o programa foi apresentado por Carlos Cruz, Nicolau Breyner e Jorge Gabriel. No entanto, foi com o “baixinho e gordinho” — hoje ainda baixinho, mas já bem menos gordinho — que o programa ganhou uma nova vida, subindo em popularidade e tornando-se líder de audiências no seu horário. Todas as tentativas da concorrência em o destronar, deram barrete.
Vai para o ar antes do Telejornal da RTP1, de segunda-feira a sábado, com direito a inúmeras repetições — um verdadeiro filão sem fim.
A receita é conhecida e os ingredientes mantêm-se: prémios abundantes e apetecíveis, muitas vezes literalmente oferecidos com a ajuda do Mendes, figura carismática e popular, por vezes exageradamente cómica. Duas belas assistentes femininas — que funcionam sobretudo como “jarrinhas” e modelos de roupa (por vezes demasiado reduzida) — e um simpático assistente negro, cumprindo o requisito da diversidade como é politicamente correcto, que dança com senhoras da plateia e come bolos de uma bocada. Para completar o quadro, há espaço para actuações musicais, geralmente de artistas do género pimba, o que encaixa perfeitamente no espírito do programa. O Miguel Vital, figura simpática, faz de speaker e de DJ mestre a passar música pimba.
Como diz o ditado, "em equipa que ganha não se mexe", e assim tem sido ao longo dos muitos anos. Não há como negar: o concurso é popular. E eu, que o vejo muitas vezes porque a patroa não o dispensa enquanto prepara o jantar, reconheço que é um entretenimento diário para uma vasta audiência, maioritariamente composta por pessoas mais velhas e reformadas — o que lhe confere até um certo papel social. Gente de várias idades, mas sobretudo mais velhos, de vários estatutos e profissões, dos aprumados e contidos até aos mais espalhafatosos e "cromos". Há de tudo e, regra geral, os mais "cromos" acabam por ser os mais sortudos ou mais ajudados pelo apresentador.
Contudo, apesar de ser um concurso, há particularidades que tornam difícil considerá-lo um verdadeiro modelo de equidade e igualdade de oportunidades. Por exemplo: em cada emissão participam seis concorrentes, mas apenas quatro, os chamados na primeira ronda, têm três oportunidades de acertar no preço do primeiro produto, o que lhes permite avançar no jogo. Outro, na segunda ronda, tem apenas duas hipóteses e o chamado na útlima ronda só tem uma hipótese. Embora esteja nas regras, e não raras vezes o útlimo chamado ainda vai a tempo de ganhar, convenhamos que é uma lógica esquisita, injusta e desproporcional. Adequado seria que os seis fossem todos chamados em simultâneo e assim com as mesmas possibilidades de avançar para a montra final.
Outro ponto curioso: sendo o programa chamado "O Preço Certo", a lógica do primeiro palpite está longe de premiar quem mais se aproxima do valor real. Se um produto custa 50 euros e um concorrente palpitar 51, enquanto outro 15, ganha este — mesmo estando muito mais longe — porque, segundo a regra, não se pode ultrapassar o preço. Esta regra, embora aceite, é manifestamente absurda. Seria mais justo vencer quem mais se aproximasse, independentemente de ter ultrapassado o valor, e apenas em caso de empate poderia aplicar-se a regra de "não exceder".
Mais uma: no jogo da roda, o primeiro concorrente gira com o marcador no 100, mas os seguintes já começam do ponto onde a roda parou anteriormente — o que desvirtua o princípio da igualdade de condições mesmo que pela lei de probabilidades vá dar ao mesmo, digo eu.
Também não esquecer a parte em que muitos dos concorrentes dão mais do que o que recebem, já que tantas vezes vão carregados de prendas e lembranças, desde bonés e galhardetes da associação da aldeia até leitões inteiros, charcutaria, doçaria e caixas de vinho. É um exagero que mostra o lado pitoresco do concurso e, já agora, da generosidade dos portugueses, sobretudo dos que vêm de longe e do interior, mas, não havia necessidade. Para além de tudo, não raras vezes, que oferece esses produtos, recebe alguma desconsideração por parte do apresentador, fazendo cara de aborrecido ou entediado.
Para terminar, o concurso, em rigor, já deixou de o ser. Muitos prémios são simplesmente oferecidos, com o apresentador a sugerir diretamente as respostas certas, do tipo: “É verdadeiro... ou verdadeiro?” ou a dar pistas demasiado óbvias. Sabemos que é tudo em tom de brincadeira, puro entretenimento — ainda que financiado, em parte, com dinheiro dos contribuintes, porque numa estação pública, mas que tem as suas singularidades, tem.