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Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

31.10.24

Modernas inquisições


a. almeida

Essa queixa-crime contra dois deputados do Chega e um assessor que já reuniu mais de 100 mil assinaturas é uma palhaçada judicial de todo o tamanho, própria de quem não tem tradição democrática e procura, através do tribunal judicial, meter na prisão os adversários políticos, em lugar de os vencer no tribunal da opinião pública.
Tudo o que os deputados do Chega disseram (e o seu assessor também) é puro direito à liberdade de expressão, ampliado pela sua condição de deputados da Nação, e perfeitamente enquadrável na jurisprudência do TEDH sobre esta matéria.

[Pedro Arroja - Portugal Contemporâneo]

 

Palhaços e palhaçadas nunca hão-de faltar, sobretudo no nosso panorama político e politiqueiro. O difícil é escolher. E como de facto não somos todos criancinhas da pré-escola, não é preciso reunir um cento de mil assinaturas para achar tudo isto uma verdadeira palhaçada. Mas têm medo de quê esses subscritores? Que a democracia não funcione?  Vai daí, que a Justiça deva decidir o que não decide o povo nas urnas?

Por este andar, um dia destes juntar-se-ão mais 100 mil inquisitores a pedir para colocar na alçada da Justiça e na choldra todos os que tiverem a ousadia de votar no Chega. Já faltou mais! Terão prisões para tantos?

17.05.24

O génio da lâmpada


a. almeida

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Num certo blog cá da praça, que não menciono apenas porque o mesmo está em destaque na plataforma, o autor tem um bom artigo onde aborda a questão da inteligência artificial (IA), considerando, e bem, que a mesma ... interfere em todos as áreas da expressão humana, sendo mesmo usada para criar música, imagens, conceitos pictóricos, poemas e até roteiros de filmes.

Se concordamos todos que a IA apresenta ganhos extremamente positivos na área das ciências, desde que usados apenas num sentido positivo e na promoção do bem humano e da natureza (o que será impossível, reconheça-se), questiona o autor, legitimamente, o seu uso em contexto da criatividade artística.

Mais questiona se "Importa se uma pessoa aprecia o trabalho criado por uma máquina ou se isso ainda é antiético? A resposta a esta questão filosófica parece não vir tão cedo. Por enquanto, o uso de assistentes de software nas esferas criativas ergue muros de preocupações e protestos. Talvez por isso os limites diários do uso dessa IA levantem cada vez mais questões."

Como comentei o artigo, partilho aqui o comentário ou a ideia do mesmo, com ligeiros acrescentos, que de algum modo exprime o que tenho em conta sobre o assunto:

- Tudo questões sérias e pertinentes.
De facto a criatividade humana começa agora a valer pouco ou nada e numa qualquer obra já não sabemos se havemos de nos deslumbrar, pelo talento e criatividade, ou se apenas torcer o nariz e pensar que o mérito é apenas de uma máquina e algoritmo que limitam-se a interpretar uma ordem baseada numa descrição mais simples ou rebuscada. A modos de quase como o esfregar a lâmpada e pedir o desejo ao génio. Com ela, o mais nabo e inadaptado torna-se mestre.
Em resumo, soltaram a fera. Anda agora à solta e impossível será domesticá-la.
O meteorito dos prejuízos para os verdadeiros artistas, que até aqui viviam pelo seu talento, está já em queda. Qual a verdadeira dimensão da cratera e da onda de choque do seu impacto, é o que se verá, e não será necessário esperar muito.

A condizer ao artigo, uma imagem gerada por IA.

22.04.24

Cortejo do politicamente correcto


a. almeida

O tão grande quanto ainda desconhecido J. Rentes de Carvalho, titula o pensamento como Maquilhagem. Eu, tomo a liberdade de o titular como "Cortejo do politicamente correcto". Em véspera dos 50 anos sobre o 25 de Abril de 1974, ajusta-se como um retrato em 4K, em alta definição.

"A arte de existir, se arte se lhe pode chamar, está na paciência de sofrer o desânimo, no ver semicerrando os olhos, no respirar fundo e depois, lentamente, deixar que com o sopro escape também a náusea e a desilusão.
Porque tudo é teatro, adereços, bastidores, maquilhagem. São tantos os actores como os pontos que lhes sussurram as palavras a dizer, as atitudes a tomar, lhes mostram o caminho do proveito e os escolhos em que se tropeça.
Actores, pontos, os que tocam a música, vão todos em fila, que é o mais seguro, debitando a monótona ladainha da aceitação, confortados por igualdades e direitos que imaginam, por certezas que lhes garantem tão seguras como o nascer do Sol.
O remédio é entrar no cortejo e ir também, cantar com eles, bater palmas, mostrar entusiasmo quando o arauto anunciar a passagem do rei e o esplendor do seu manto."

 

[J. Rentes de Carvalho - in Tempo Contado]

21.02.24

...E o burro sou eu?


a. almeida

Tal como J. Rentes de Carvalho se mostra surpreeendido, apesar da sua bonita e longa idade, também eu, mais jovem mas com igual surpresa, sinto que o bom povo português não é mesmo de mudanças em relação aos pulhas que ao longo da nossa História têm tratado da res publica, as coisas de todos nós, invariavelmente como se fossem suas.

Andamos, pois, para aqui entretidos, a fazer de conta que desde o 25 de Abril de 1974,  50 anos volvidos fossem suficientes para carrilar a carruagem que desde a implantação dessa coisa fenomenal da república tem andado descarrilada. É certo que a coisa por algum tempo até chegou a andar nos eixos mas o povo gosta mesmo de ser livre e antes livre e desgovernado que o contrário. 

Ainda sem surpresa, vamos assitindo e a fazer de conta que esta gente que tem como profissão a política, nela desde pequeninos, netos de sapateiros, de doutores e engenheiros, tem um despretencioso interesse em ajudar os outros no caminho do progresso, a prometer promessas nunca cumpridas.

Andamos todos interessados a assistir a debates de todos contra todos como num torneio de futebol e a dispensar ouvidos e olhos a comentaristas e analistas avençados a darem notas como se a coisa fosse um concurso do Sequim d'Ouro, a decidirem qual dos meninos tem melhor ouvido e voz afinada.

Em resumo, mais coisa menos coisa, vamos andando embalados, sempre à espera de grandes feitos, mas, na realidade, apenas neste permanente rame-rame.

Como dizia o inefável Scolari; ...E o burro sou eu?

15.02.24

Mas para quê?


a. almeida

"Para quê tanto berro? Que querem vocês? Que adianta esse atirar de lama e insultos? Gritam que governe quem governar nada mudará, só as moscas serão outras. Pensaram bem? Então nestes anos todos escapou-lhes que as moscas são sempre as mesmas e cresce a estrumeira onde elas engordam?

Por que esperam? Um redentor? Já não há. Revoltas e revoluções também não. Aliás, é sempre melhor que as faça quem sabe, pois das dos amadores resulta o que temos.

Berram vocês na internet, exigindo mudanças e melhorias, mas a internet não é praça pública, nem tribuna, nem sequer o café. É um nevoeiro. E um blogue poderá dar-vos a ilusão de ser trombeta, mas nem chega a apito, é um murmúrio.

Passam por lá dez, cem, mil visitantes? Dois mil? Pois passam. Espreitam, farejam, lêem umas linhas, esquecem. Os mentecaptos – linda palavra doutro tempo – aproveitam para vomitar ódio nos comentários. Parece movimento e é só vento. Uma pequenina, triste, por vezes cómica sarabanda, diversão púbere, mau grado as doutas e menos doutas análises políticas, económicas, sociais, as profecias de desastres e misérias que não se levam a sério. Porque é só falação, entretenimento, a aragem a fingir de ciclone.

Mas a realidade – contenho-me para não dizer, a triste realidade – é que o tempo passa. O meu já passou, mas vocês têm quê? Vinte e cinco? Trinta? Quarenta anos? Na força da vida e sem genica, sem ideal, sem sonhos, aos berros de que isto está mau e vai piorar?

Ninguém vos ouve, o vosso berreiro nem sequer faz eco."

 

[J. Rentes de Carvalho - Tempo Contado]