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Diário de quem já não vai para novo

...e sem paciência para seguir o rebanho.

Diário de quem já não vai para novo

...e sem paciência para seguir o rebanho.

12.08.25

Os contos do José da Xã


a. almeida

Acabei de ler os dois livros que simpaticamente me ofereceu o José da Xã

Li com todo o gosto, e no geral apreciei bastante. Sendo que gostei mais de alguns contos do que de outros, o que é normal, em todos consegui captar emoções, sentimentos e mensagens.

A escrita do José é envolvente, descritiva, e coloca-nos facilmente nos diferentes ambientes,  juntos e mesmo na pele das personagens — quase como se estivéssemos a assistir in loco.

Dentro dos meus gostos pessoais, e cada leitor tem as suas manias, senti que alguns finais ficaram com algo em aberto, como se a pedirem um desfecho mais forte, mas, ainda assim, na maioria, sintomáticos e mesmo a deixarem uma introspecção, quase como a convidar o leitor a concluir de acordo com a mensagem que extraíu de cada história, pelo que cada final pode ter diferentes conclusões.

Fico agradecido ao José pela oferta e deixo o meu incentivo para que continue a escrever — porque, com essa capacidade narrativa pode facilmente entrar em algo mais ambicioso.

23.05.25

As verdades que doem


a. almeida

No Chega votaram ricos e pobres, urbanos e rurais, mulheres e homens, liberais e estatistas, intelectuais e incultos. Entre um milhão e meio de eleitores do Chega encontram-se perfis pessoais variadíssimos e, provavelmente, um milhão e meio de diferentes razões de voto.

Mas como chão comum a tanta gente talvez estejam algumas ideias simples: o voto no Chega é o que mais irrita os jornalistas e comentadores que querem impôr uma narrativa paternalista no espaço público; é o voto que mais assusta uma classe política que protege e reparte poder e privilégios entre si há décadas; é o voto que mais indigna os sinalizadores de supostas virtudes; é o voto que mais deixa raivosos aqueles que se sentem ungidos por uma superioridade moral.

 

[Telmo Azevedo Fernandes - Blasfémias - continuar a ler]

26.02.25

A língua que nos deram


a. almeida

Perdoar-me-á, o J. Rentes de Carvalho, mas não resisto a reproduzir na íntegra uma das suas pérolas da escrita e pensamento. De resto, é por uma boa causa, porque de facto andamos , de há muito, a cavar nesta imbecilidade de usarmos os inglesismos por tudo e por nada, não só na fala e na escrita, como nas parangonas dos títulos ou designações de eventos. Cada tiro cada melro, cada cavadela, cada minhoca. Somos uns tristes e nma miséria que não se compreende com a riqueza da nossa língua, de Camões, de Eça, de Pessoa, de Torga e tantos, tantos outros. De facto gostamos de usar fantasias carnavalescas que nos ficam curtas nas mangas e com isso, mesmo em Carnaval, ficamos ridículos.

 

"A língua que nos deram

Todos conhecemos momentos em que se hesita entre a gargalhada e o choro, mas não são esses os piores. Ruins mesmo são os que enfastiam e nos deixam num estado de prostração, porque pôr o dedo na chaga de nada adianta quando sabemos que nos falta remédio para ela.

Vem isto a propósito do fenómeno generalizado e nacional do arroto de postas de pescada no que toca o uso a língua inglesa. De doutor a semi-analfabeto há uma rapaziada a quem se lhes meteu na cabeça que a demonstração de ser fino, sabido, pertencer aos eleitos, à fina-flor, não dispensa umas pazadas de Inglês. E vá de arrotar. Ora em exclamações, ora citando meia página de Shakespeare, umas frases de Johnson, às vezes lavra própria, causando arrepios a quem sabe da poda e se pergunta se aquilo é sintoma de doença.

Porque doença é, e uma forma de pobreza. Nada mais deprimente do que ver alguém, julgando que bota figura no carnaval da intelectualidade, usar uma fantasia que lhe fica curta nas mangas.

Oiça, mesmo na forma simples e popular, a sua, a nossa língua-mãe é tão rica que lhe permite exprimir adequadamente, e até com elegância, os seus sentimentos, conviver, comunicar impressões, participar no trato social. Quer mais? Abra os ouvidos. Ainda há gente a falar um Português correcto. Quer apurar o vocabulário e o estilo? Tem aí Fernão Lopes, Vieira, Camões, Bocage, Fialho, Eça, Pessoa, tantos outros. Leia.

Mas por favor, caia em si, poupe-nos o espectáculo, não se envergonhe de quem é, de quem somos, da língua que nos deram."

J. Rentes de Carvalho

17.02.25

Os solos quando nascem não é para todos


a. almeida

Não se pode! Então estava eu a preparar-me para concorrer ao cargo de presidente da Junta cá da terrinha, e descobri agora que o meu cunhado tem um empresa de jardinagem e a minha irmã uma empresa de criação de tartulhos e a vizinha do meu irmão tem uma empresa de limpezas de terrenos florestais e plantação de morangos. Já o melhor amigo do vizinho do meu primo, esse tem uma empresa de construção e só nos últimos cinco anos construíu e vendeu quatro casas geminadas. 

Dizem que, a bem ver, todos eles têm interesses directos ou indirectos com a lei dos solos e que isso coloca entraves à minha pretensão, como quem diz, faz de mim um quase criminoso. Não tarda, tenho "A Prova dos Factos" da RTP ou a CMTV a vasculharem a minha vidinha e com jeitinho, o meu irmão que está na Noruega, perto do Pólo Norte, também tem lá montada uma empresa de construção de iglus, também me vai ajudar a arrefecer a minha ambição.

Melhor será não concorrer e deixar isso para quem vive sozinho em Marte e não tem família nem amigos com empresas montadas, não porque não faltem marcianos,mas por agora não há por lá lei dos solos.

Nestas coisas, é melhor não ter família. Num repente deixam-nos ficar mal, a travar as nossas aspirações pessoais de bem servir os outros. Quem não tiver um familiar com uma empresa que atire o primeiro tijolo!

Os solos, realmente, quando nascem não é para todos.

[Dentro da mesma linha e porque concordo...]

28.01.25

Um ano de diário e o autor ainda menos novo


a. almeida

Há precisamente um ano, criei este blog, sem grandes expectativas de continuidade. Não antevia publicações regulares, nem temas ou tópicos que atraíssem seguidores e visitantes constantes — pelo menos em número superior ao dos deputados do Bloco de Esquerda, do PCP ou do PAN na bancada da Assembleia da República. Afinal, falar sozinho ou para os muros, mesmo que por escrito, é coisa de fé, para maluquinhos ou para judeus.

Além disso, com comentários abertos e a presença de gente simpática, inteligente e compreensiva, respeitadora de opiniões divergentes, sabia que não faltariam os habituais trolls e anónimos, uns mais do que outros, com ou sem pretexto. E não me enganei. Mas, mesmo assim, aguenta-se, porque até no meio do estrume nascem flores.

Apesar de tudo isso e da pouca expectativa, mesmo sem o vento estar a favor — nunca esteve —, a coisa foi indo. E aqui chegamos. Vale o que vale, e, ao iniciar um segundo ano deste diário, continuo sem convicção de que ele vá durar.

Apesar da pouca fé, quero expressar um voto de agradecimento aos leitores mais habituais e a todos que deram atenção a um ou outro texto, e até o marcaram como favorito. Bem hajam!

13.11.24

A berrar e a borrar


a. almeida

Hoje sinto-me preguiçoso. Assim, não porque precise ele de publicidade, faço de um comentário do Pedro Correia, no "Delito de Opinião", o post deste dia. Sei que são perguntas "difíceis" mas haverá sempre alguém que saiba as respostas. Com sorte, talvez os berradores e os borradores.

"...Sobre a agenda climática convém assinalar o seguinte: só a UE está a cumprir escrupulosamente a referida agenda. Em mais nenhuma parte do mundo - do Brasil do senhor Lula à China do ditador Xi - isso ocorre.
E no entanto só aqui, na Europa Ocidental e Central, aparecem "activistas climáticos" a berrar contra os governos e a borrar edifícios e museus com tintas e outra porcaria?.
Por que raio não irão eles berrar e "agir" em Nova Deli, Pequim, Moscovo, Manila, Cairo, Nairobi ou Joanesburgo?"

 

05.11.24

Peças do mesmo molde


a. almeida

Não sou o primeiro a afirmá-lo, nem, com toda a certeza, o último. Ainda agora e bem melhor que eu, o escreveu J. Rentes de Carvalho, patrão da barca do "Tempo Contado".

Mas, de facto, vivemos num tempo em que somos, literalmente, levados a acreditar no que nos impingem os senhores que, de um ou outro modo, vão sendo os "donos disto tudo", a começar pela comunicação social, esta há muito com a alma e o resto da mobília vendidas ao diabo, como quem diz aos interesses de grupos, agendas partidárias e ideológicas e lobies mais ou menos obscuros que com ares de quem nos governa e seriamente preocupados pelo nosso bem-estar geral, vão ditando as leis e impondo as regras e as modas, por mais estapafúrdias e wookianas que sejam. Por todos os meios procuram reescrever a História, rever livros, adoçar narrativas. Em suma, uma enorme lavandaria de cérebros menos dados a escrutínio proprio.

Por conseguinte, o mandá-los "à merdinha" ou a dar uma "volta ao bilhar grande" já não basta e porventura o melhor remédio será ignorá-los e continuar a pôr o pé fora das argolas com que nos tentam emaranhar.

Não obstante, a resmunguice mais ou menos resignada de uns poucos choca com a dimensão do rebanho que obediente segue os carneiros-mor. Alinham-se a passo milimétrico como a soldadesca de uma Coreia do Norte na parada militar perante o supremo morcão e líder Kim Jong. O rebanho exulta com as narrativas das supremas cabecinhas pensadoras e surfa na onda da aceitação de que o obsceno é normal e curriqueiro.

Discute-se no café ou nas redes sociais os principescos ordenados que se pagam a desportistas e acolhe-se a notícia de que um qualquer treinador porreiraço irá ganhar 8 milhões por época como se isso seja pouco mais que o ordenado mínimo de um qualquer pedreiro ou trolha. Mas aqui o treinador de quem se fala, é apenas um gota nesse oceano de obscenidade salarial e nem sequer é ele o culpado nem dos que mais ganha, longe disso. Têm-na, a culpa, na justa medida que temos cada um de nós, peças uniformes desta moderna sociedade. Nem mais nem menos!

Assim como assistir à carnaficina nas guerras, atentados terroristas e conflitos vários, vai-nos retirando sensibilidade  a ponto de aceitarmos estas situações e notícias com uma naturalidade de mansos e ordeiros como gado a entrar no matadouro.

Passamos há muito os limites da idade da inocência e já nada nos comove ou nos abala nos alicerces da nossa indiferença. Estamos no ponto! Cada um um pedaço de barro pronto a ser moldado, mas já não na roda do oleiro, mas para não haver peças únicas, apenas pela uniformidade de um molde. Todos iguaizinhos! 
Vamos, pois, andando neste turpor geral em que tudo continuará a ser mais do mesmo, expectável, previsível. 

Como escreveu o velho escritor e pensador "...só que o dito não é para aqui chamado, esse “à vontade do freguês” é modo de dizer, pois já não há freguês no sentido corrente. Nem sequer loja, mas estádios plenos de multidão entusiasmada, gritando e saltando ao mando do deejay, esquecida que é rebanho, e terminada a música, as luzes, o foguetório, a espera, o chicote e a mordaça."