04.09.24
Não havia necessidade
a. almeida
Sobre o facto do primeiro ministro da nação, Luis Montengro, ter aparecido dentro de uma embarcação a inteirar-se da tragédia da queda do helicóptero no rio Douro, de que todos estamos informados, considero igualmente que em tais circunstâncias não havia de todo essa necessidade. Mas daí achar que tal situação atrapalhou as buscas e resgate, é no mínimo ridículo, não faz sentido e resulta de falta de honestidade intelectual de quem tal considerou.
Em resumo, não havia necessidade, porventura, sim, junto dos familiares, o que deduzo que terá, antes ou depois, acontecido, e se não teve um propósito intencional de promoção mediática, pôs-se muito a jeito.
Não servindo de desculpa, todavia, o que não faltam são exemplos mais ou menos similares, sobretudo em incêndios, cheias ou outras fatalidades, com autarcas e governantes a misturarem-se com os operacionais nos "teatros de operações". Faz parte da natureza dos políticos, em geral, essa auto-promoção, para mostrarem que são pessoas de acção, interessadas e participantes.
Cá na terrinha, sempre que uma estrada é pavimentada, o chefe da autarquia faz-se fotografar para a posteridade e encharca as redes sociais com tão "notáveis" feitos. Isso e inaugurações, seja do que for em vésperas de eleições. Não perde um momento social, cultural ou desportivo para marcar o ponto e sorrir para o boneco.
Salvo as devidas distâncias, porque este acidente foi de facto demasiado sério e trágico, por isso em nada equiparável a coisas de somenos importância, ilustra, porém, muita da filosofia dos nossos políticos. Recato ou discrição, sendo ou não a mesma coisa, são atributos que a classe quase sempre dispensa, seja na Junta de Freguesia, na Câmara Municipal ou no Governo.