22.07.24
Moto macacadas
a. almeida
É já sem surpresa ou esmorecimento que quase todas as semanas, mesmo que na diagonal, leio num ou noutro jornal que "mais um motociclista", "mais um motard", perdeu a vida num acidente. Perde-se e perdi já a conta.
Digo que "sem surpresa ou esmorecimento" poque ando pela estrada e vejo como esses motociclistas ou "motards", um eufemismo que nunca percebi", se comportam. Não pondo na mesma canastra alguns poucos que fogem à regra, no geral é vê-los acelerados, em procissões, uns atrás dos outros, ultrapassando de todas as maneiras e feitios, sem o menor respeito pelas regras da condução moderada e responsável, nem por aquelas linhas contínuas, simples ou duplas, porque dessa centopeia ninguém quer descolar e o abuso de uns puxa o de outros.
Um pouco por todo o lado já vi do piorio e até ultrapassagens pela minha direita, sendo que não em auto-estradas. A minha aldeia é pequena e pacata, mas porque não longe da cidade do Porto, passa na sua borda uma auto-estrada e do terraço alto da casa dos meus pais avisto-os, sobretudo ao fim-de-semana, a passarem em alta velocidade sobre o viaduto, com um barulho ensurdecedor que, para quem anda na estrada, não é de surpreender estimar que alguns circulem a pelo menos a 200 km/hora. É o que é!
Em resumo, perco a conta aos anos em que ando a ouvir da boca da vida que "quem anda à chuva molha-se" ou "caneco ou cântaro que vai muitas vezes à fonte, um dia lá deixa a asa". Assim sendo, é sem qualquer supresa que tomo nota destas notícias fatídicas numa quase esperada constatação. Certamente que nem todos como consequência de más condutas e piores conduções, e nem sempre disso culpados, mas pelo andar da carruagem e pela lei das probabilidades, o grosso desses acidentes graves ou mortais decorre dessa má condução, dessa irresponsabilidade, que põem em em risco as suas vidas e de outros. E quando assim é, de tão óbvio, só lamento que dessas tropelias tantas vezes se cause, por arrasto, prejuízo a terceiros, ou mesmo para além disso, consequências graves ou mesmo fatais.
E digo isto sem moralismos até porque, para mal dos meus pecados, também um meu filho, contra a minha vontade e conselho, decidiu comprar uma dessas maquinetas aceleradeiras, mesmo que de baixa potência (125 cm3) e só a utilize esporadicamente e quase nunca nessas procissões de dezenas que entopem as estradas a caminho, desconcentrados, de uma qualquer das mais que muitas "concentrações". Sempre que sai peço a Deus e a todos os anjinhos para que tudo corra bem, que lhe deem juízo na tola, mas fico sempre com o coração nas mãos, sabendo que a condução segura e responsável anda muito esquecida por esta malta entorpecida pela adrenalina que os leva a fazer figuras de figurões.
É abusivo generalizar e por isso não o faço, mas os comportamentos a que todos, que andamos na estrada, assistimos com frequência por parte da maioria dos motociclistas, não deixa muita margem para dúvidas de que no geral as coisas correm mal para quem se porta mal. Assim sendo, quando as notícias das fatalidades são lidas, a reacção é de apenas um encolher de ombros porque há mortes que são anunciadas.
Ainda que de carro, há dias chocou-nos a morte anunciada de quatro jovens, entre os 18 e 20 anos, que em corrida como as dos filmes, chocaram em alta velocidade contra uma árvore inocente, fazendo incendiar o veículo e como resultado essas mortes estúpidas e ainda duas vidas em perigo pela gravidade dos ferimentos.
Anda tudo louco, como se a vida já por si, no que tem de normalidade, não seja suficientemente perigosa. É o que é!