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Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

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02.09.24

Engrenagem


a. almeida

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Agora que regresso ao trabalho, e é penoso porque dele já não retiro qualquer prazer (e sim, é possível que o trabalho seja prazeroso), dou comigo a confirmar o que já se sabia, de que isto, a vida, não é mais que uma engrenagem feita de múltiplas rodas dentadas, umas maiores que outras, mas todas entre si encaixadas e dependentes, mesmo que girando a diferentes velocidades por força dos diâmetros e número de dentes.

Se quisermos, é um relógio, de engrenagem mais ou menos oleada, mais ou menos gasta, mas não passa disso. E por isso, demos as voltas que dermos, tudo se resume a ciclos, a pontos de partida nos mesmos pontos de chegada. Então, se tivermos como referências os tempos do nosso mais ou menos habitual calendário, temos as férias, com festas, romarias, festivais de música à fartazana, depois o que a gente do campo diz por colheitas dos frutos do Verão, seguindo-se a ida aos cemitérios acender umas velinhas e depositar umas flores, mesmo que artificiais, por quem no resto do ano andamos esquecidos, logo a seguir, ou mesmo antes,  já o comércio feroz com falinhas mansas a lembrar-nos o Natal e este não tardará. Bacalhau, cabrito, indigestões, e num pulinho estamos a mudar a folha ao calendário enquanto estouram foguetes e rolhas de espumantes. O Carnaval é logo a seguir e para quem segue a coisa, a Quaresma, a Páscoa, os santinhos populares, sardinhas e caldo verde e novamente uma ou duas semanas de férias para nos animar. E tudo recomeça...

Claro está que um dia a coisa pára, até porque não haveria engrenagem que resistisse à imortalidade por mais lubrificante que se lhe aplicasse, mas ainda bem que assim é, porque no rumo que as coisas vão, isto vai dar para o torto e não será preciso esperar pela incineração da Terra quando o Sol se transformar numa gigante vermelha, o que dizem que ainda é coisita para demorar uns quantos bilhões de anos.

Por conseguinte, como num castelo de cartas, com jogadores de mãos nervosas, não tarda que na colocação da próxima, por excesso de peso ou desiquilíbrio, a coisa caia inapelavelmente. Só que, ao contrário de um castelo de cartas, o fim será com estrondo.

A engrenagem está a rolar. Tic. tac, tic, tac, tic, tac...

 

PS: Não levem a sério, pois é o síndrome do primeiro dia de trabalho logo a seguir ao último de "férias".

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