30.04.25
Pedro Nuno Apagão dos Santos
a. almeida
Na política, não pode valer tudo — sobretudo quando está em causa o sentido de responsabilidade e o respeito pela inteligência dos cidadãos. As declarações de Pedro Nuno Santos, do Partido Socialista sobre o recente apagão eléctrico são, nesse sentido, um bom exemplo de como a precipitação e a demagogia podem obscurecer o debate público.
Acusar o Governo de ter ele próprio sofrido um “apagão” na resposta à falha de energia é, além de infeliz, completamente desajustado da realidade. A crítica assenta num exagero populista que ignora o essencial: o problema foi resolvido em poucas horas e, durante esse período, as autoridades prestaram esclarecimentos possíveis num cenário limitado — sem televisão, sem internet, sem rede móvel, e com os rádios dependentes de pilhas ou do combustível nos automóveis. Haveria, afinal, forma mais eficaz de comunicar sob essas condições? E de que adiantaria? Impedir os cidadãos de invadirem as superfícies comerciais? Mandar a tropa apara a rua?
Nunca me pareceu, nem por um momento, que estivéssemos perante uma situação de emergência grave. Sabia-se que não se tratava de um ataque externo, muito menos de origem marciana. A confiança na resolução técnica e na resposta institucional foi, para mim, suficiente. A histeria que alguns tentaram cavalgar — nomeadamente o líder socialista — revelou-se desproporcional e, sobretudo, oportunista.
É difícil não ver neste episódio o aproveitamento político típico de tempos eleitorais. A menos de duas semanas das legislativas, e em véspera do debate televisivo, compreende-se a tentação de marcar posição. Mas convém lembrar que nem tudo é aceitável em campanha. Há uma linha que separa o escrutínio legítimo do puro teatro mediático. E Pedro Nuno Santos parece tê-la cruzado com facilidade desconcertante.
A análise feita por vários comentadores tem sido, aliás, quase unânime: o líder do PS precipitou-se, demonstrando falta de sentido de Estado e revelando mais ansiedade eleitoral do que verdadeira preocupação com os cidadãos. Se isso terá impacto nos resultados das urnas? Provavelmente não de forma decisiva. Mas ajuda a perceber melhor quem está preparado para liderar e quem ainda confunde palco com responsabilidade.