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Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

31.12.24

Esperemos nos lares


a. almeida

Da imprensa: "Portugal é o único entre mais de 20 países com a classificação mais alta no excesso de mortalidade, segundo o site EuroMOMO. Já aconteceu em anos pré-pandemia, durante a pandemia (janeiro de 2021) e agora. ...A situação é considerada "preocupante".

Para além disso, sabemos todos que desde a pandemia tem havido excesso de mortalidade face às médias consideradas como normais e a taxa de nascimentos não tem evoluído positivamente apesar da elevada percentagem dos contributos de casais imigrantes.

Dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos indicam que "nunca, como hoje, se nasceu tão pouco em Portugal.O país tem um dos mais baixos níveis de fecundidade da Europa e do mundo.Em seis décadas, o número de nascimentos em Portugal caiu para menos de metade. No início dos anos de sessenta, havia mais de 200 mil nascimentos por ano no país. Atualmente, esse número é inferior a 86 mil. A tendência de declínio dos nascimentos não é nova, como se vê, mas nos anos recentes adquiriu uma intensidade reforçada."

Acredito nestes números. Pela realidade local, na minha pequena freguesia há seis décadas nasciam em média 35 crianças por ano. No meu ano nasceram 33. No ano passado nasceram apenas 4 e neste ano somente 3. Como dizia o Guterres, é só fazer as contas.

Apesar de tudo e destes indicadores, os senhores das estatísticas corroborados pelos governantes, lá encontraram números e folga para sustentarem um novo aumento da idade legal da reforma, estabelecendo para 2026 o limite de 66 e nove meses. A esperança média de vida aos 65 anos não tem em conta as capacidades físicas dos contribuintes. Afinal um homem pode chegar aos 100 anos mesmo que desde os 65 numa cadeira de rodas ou encamado. Para as contas do INE conta que estejam vivos, não importa em que condições e se aptos ao exercício das profissões.

Eu que comecei a trabalhar aos 12 anos, e que alguns patrões surripiaram descontos que não contaram para o totobola, ainda tenho que esperar um bom tempo. Até lá, a este ritmo, alcançaremos a reforma aos 80 anos, mesmo que já alojados pelos lares ou em casas de cuidados paliativos.

Mas como somos um povo manso e ordeiro, tudo está bem, tudo se aceita, desde que não nos mandem encostar a uma parede para nos revistarem as algibeiras.

27.12.24

Cartas abertas


a. almeida

insectos.jpg

Tinha umas coisitas simpáticas a dizer, em jeito de carta aberta, aos autores da carta aberta com acusações ao primeiro-ministro, e opinar que, no meu entendimento, faltam mais acções em que a polícia se mostre, e quem não deve não teme, e que isto  não convém que seja uma "co*a da mãe joana". Pelo meio, talvez lhes recomendasse irem áquele sítio abaixo de Braga, ou a darem um voltinha ao bilhar grande.

Do que vi, mostrado não pela polícia mas pela comunicação social, foi uma acção normal de fiscalização e em que imperou o procedimento adequado a controlar uma pequena multidão. Muita gente voltada para a parede? E que mal tem se o motivo era a segurança dos revistados e dos revistadores? Alguém, foi agredido, detido ou acusado injustamente? Viver em liberdade e num estado de direito tem destas coisas. Repito que quem não deve não teme. Mal seria se assim não fosse.

Não obstante, como ainda em espírito natalício, limito-me a partilhar um olhar de natureza, que fica sempre bem, está na moda e é relaxante. Se não resultar, passem pela farmácia Central e comprem algo que alivie o stress e a azia. Pelo sim, pelo não, um boião de vaselina, para as frieiras é uma boa opção, é que, pelo menos por aqui, o tempo vai de geadas. 

Continuação de festas boas!

23.12.24

Natal


a. almeida

natal1.jpg

Abaixem-se, submissos, os montes,
Aplanem-se os vales viçosos,
As aves cantem hinos de louvor,
E amansem o trovão e o vendaval.

Fiquem límpidos os horizontes,
Alegrem-se os regatos chorosos,
Porque é nascido Jesus Senhor
No mistério de renovado Natal.

 

 

[ilustração: Maria Keil - Do livro de leitura da primeira classe]

20.12.24

A moral da esquerda é mirolha


a. almeida

Não é político que me capte simpatias, mas parece-me que o que está a contecer na Madeira, é algo que devia preocupar. Os populistas do Chega, nomeadamente o rezingão e charlatão do seu líder, promoveu a queda do governo regional, com a parceria do fofo Cafofo, o eterno derrotado, alegando questões de corrupção. 

Todavia, tanto quanto se saiba, e cobrindo-o a oposição com tal anátema, Miguel Albuquerque não foi condenado e até que o possa ser, presume-se a sua inocência. Além do mais, e não é dispiciendo, venceu as eleições de forma legítima. Sim, venceu as eleições!

Que seja derrubado por não dispor de maioria parlamentar, aceita-se, mesmo que isso conduza a mais do mesmo e em grande medida pela sede de poder de quem não o alcança em eleições, mas colocar em causa a legitimidade e a inocência das pessoas é um mau caminho e atentatório aos direitos e garantias. Tanto mais que defendido o seu afastamento por quem tanto barafusta por princípios democráticos e legitimidade de direitos constitucionais, como se arvora a nossa esquerda, da mais moderada à mais radical.

Uma vez mais, a bota de toda a esquerda, e dos seus amigos populistas, não bate certo com a perdigota.

Ontem assisti a parte da entrevisa ao Albuquerque e a determinada altura, face à insistência do entrevistador, talvez avençado, parece-me que o chefe do Governo deveria ter ele próprio ter questionado o entrevistador, no género: Responda-me, eu fui condenado? Então, se não, tenho, ou não legitimidade para me expor a eleições? Se sim, e se as venci, tenho ou não legitimidade de formar Governo? Se tenho ambas as legitimidades, porque não  a tenho nem o direito de voltar a submeter-me ao escrutínio dos eleitores? 

É preciso fazer um desenho? É que o homem pode ser um grande corrupto, nem isso me surpreenderia, mas até que seja provado e condenado, merece todo o direito à presunção de inocência e sem que lhe seja beliscada a legitimidade e os direitos.

É preciso fazer outro desenho?

20.12.24

Sopa de Letras em Python


a. almeida

sopa1.jpg

sopa2.jpg

Tenho alguns conhecimentos básicos de programação Python. Com eles e com a ajuda da IA, e com alguma paciência, porque ainda comete asneiras, cheguei a este código que, em ficheiro PDF, gera passatempos de "Sopa de Letras".
Um exemplo, com 20 palavras alusivas ao Natal, que o programa dispõe de forma aleatória, e que podem ser encontradas na vertical, na horizontal, na diagonal e em várias direcções de leitura.

As palavras, separadas por vírgulas, são previamente colocadas num ficheiro TXT, que o executável lê. Fiz poucos testes para detectar erros na escrita das palavras e sua disposição na grelha, mas creio que estará a funcionar.
O código gera ainda uma grelha com as soluções. Será que o futuro dos programadores está em risco?

=============

import random
from fpdf import FPDF

def gravar_log(mensagem):
"""Grava a mensagem de log em um arquivo de texto"""
with open("log_debug.txt", "a") as log_file:
log_file.write(mensagem + "\n")

def ler_palavras(arquivo):
"""Lê as palavras de um arquivo de texto, separadas por vírgulas."""
try:
with open(arquivo, 'r') as f:
conteudo = f.read()
palavras = [palavra.strip().upper() for palavra in conteudo.split(',')]
gravar_log(f"Palavras carregadas: {palavras}") # Log: Palavras carregadas
return palavras
except Exception as e:
gravar_log(f"Erro ao ler o arquivo: {e}") # Log: Erro ao ler o arquivo
return []

def criar_grelha(tamanho):
"""Cria uma grelha vazia do tamanho especificado."""
return [[' ' for _ in range(tamanho)] for _ in range(tamanho)]

def pode_colocar_palavra(grelha, palavra, linha, coluna, delta_l, delta_c):
"""Verifica se uma palavra pode ser colocada na posição dada."""
tamanho = len(grelha)
for i in range(len(palavra)):
nova_linha = linha + i * delta_l
nova_coluna = coluna + i * delta_c
if not (0 <= nova_linha < tamanho and 0 <= nova_coluna < tamanho):
return False
if grelha[nova_linha][nova_coluna] not in (' ', palavra[i]):
return False
return True

def colocar_palavra(grelha, palavra, linha, coluna, delta_l, delta_c):
"""Coloca uma palavra na grelha na posição dada."""
for i in range(len(palavra)):
grelha[linha + i * delta_l][coluna + i * delta_c] = palavra[i]

def preencher_espacos_vazios_com_letras(grelha):
"""Preenche os espaços vazios da primeira grelha com letras aleatórias."""
letras = 'ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ'
for i in range(len(grelha)):
for j in range(len(grelha[i])):
if grelha[i][j] == ' ':
grelha[i][j] = random.choice(letras)

def preencher_espacos_vazios_com_asterisco(grelha):
"""Preenche os espaços vazios da grelha de soluções com o símbolo '*'."""
for i in range(len(grelha)):
for j in range(len(grelha[i])):
if grelha[i][j] == ' ':
grelha[i][j] = '*'

def salvar_grelha_pdf(grelha, palavras, grelha_respostas, nome_arquivo):
"""Salva a grelha e a lista de palavras em um arquivo PDF com a sopa de letras."""
try:
pdf = FPDF()
pdf.set_auto_page_break(auto=True, margin=15)

# Definir margens e tamanhos
margem_esquerda = 10
tamanho = len(grelha)
celula_tamanho = 10
largura_grelha = tamanho * celula_tamanho
altura_grelha = tamanho * celula_tamanho

# Página da sopa de letras
pdf.add_page()
pdf.set_font('Arial', size=12)
pdf.cell(200, 10, txt="Sopa de Letras", ln=True, align='C')
pdf.ln(10)

# Desenha a grelha (Sopa de Letras) à esquerda
x_grelha = margem_esquerda
y_grelha = 50

for i, linha in enumerate(grelha):
for j, letra in enumerate(linha):
x = x_grelha + j * celula_tamanho
y = y_grelha + i * celula_tamanho
pdf.rect(x, y, celula_tamanho, celula_tamanho)
pdf.set_xy(x, y)
pdf.set_text_color(0, 0, 0) # Cor das letras (preto)
pdf.cell(celula_tamanho, celula_tamanho, letra, align='C')

# Espaço abaixo da grelha para a lista de palavras
y_lista_palavras = y_grelha + altura_grelha + 10

# Lista de palavras abaixo da grelha (todas na mesma linha, separadas por espaços)
pdf.set_xy(margem_esquerda, y_lista_palavras)
pdf.set_text_color(0, 0, 0) # Cor do texto (preto)
palavras_line = ' '.join(palavras) # Juntar as palavras com espaço entre elas
pdf.multi_cell(0, 10, txt=palavras_line)

# Página das respostas (Soluções)
pdf.add_page()
pdf.cell(200, 10, txt="Soluções", ln=True, align='C')
pdf.ln(10)

# Posição para desenhar a grelha de soluções
x_respostas = 10
y_respostas = 50

# Desenha a grelha de soluções
for i, linha in enumerate(grelha_respostas):
for j, letra in enumerate(linha):
x = x_respostas + j * celula_tamanho
y = y_respostas + i * celula_tamanho
if letra != ' ':
pdf.set_fill_color(192, 192, 192) # Cor de preenchimento (cinza claro)
pdf.rect(x, y, celula_tamanho, celula_tamanho, style='F')
if letra == '*' and grelha_respostas[i][j] == '*':
# Sem cor de fundo para os '*'
pdf.set_fill_color(255, 255, 255)
pdf.rect(x, y, celula_tamanho, celula_tamanho, style='F')

pdf.set_xy(x, y)
pdf.set_text_color(0, 0, 0) # Cor das letras (preto)
pdf.cell(celula_tamanho, celula_tamanho, letra, align='C')

# Desenha a borda externa da grelha de soluções
x_borda = 10
y_borda = 50
pdf.set_line_width(0.5)
pdf.rect(x_borda - 1, y_borda - 1, largura_grelha + 2, altura_grelha + 2) # Borda externa

pdf.output(nome_arquivo)
gravar_log(f"PDF gerado com sucesso como {nome_arquivo}") # Log: PDF gerado
except Exception as e:
gravar_log(f"Erro ao gerar o PDF: {e}") # Log: Erro ao gerar o PDF

def criar_sopa_de_letras(arquivo_palavras, tamanho=15):
"""Cria uma sopa de letras a partir de palavras fornecidas em um arquivo."""
palavras = ler_palavras(arquivo_palavras)
if len(palavras) > 20:
palavras = palavras[:20] # Limita a 20 palavras

grelha = criar_grelha(tamanho)
grelha_respostas = criar_grelha(tamanho) # Grelha para as respostas
direcoes = [(-1, 0), (1, 0), (0, -1), (0, 1), (-1, -1), (-1, 1), (1, -1), (1, 1)] # Direções

for palavra in palavras:
colocada = False
tentativas = 0
while not colocada and tentativas < 100:
linha = random.randint(0, tamanho - 1)
coluna = random.randint(0, tamanho - 1)
delta_l, delta_c = random.choice(direcoes)
if pode_colocar_palavra(grelha, palavra, linha, coluna, delta_l, delta_c):
colocar_palavra(grelha, palavra, linha, coluna, delta_l, delta_c)
colocar_palavra(grelha_respostas, palavra, linha, coluna, delta_l, delta_c)
colocada = True
tentativas += 1

preencher_espacos_vazios_com_letras(grelha) # Preenche a primeira grelha com letras aleatórias
preencher_espacos_vazios_com_asterisco(grelha_respostas) # Preenche a grelha de respostas com "*"

nome_arquivo = "sopa_de_letras.pdf"
salvar_grelha_pdf(grelha, palavras, grelha_respostas, nome_arquivo)
gravar_log(f"Sopa de letras salva como {nome_arquivo}")

# Caminho para o arquivo de palavras
arquivo_palavras = 'sopaletras.txt'
criar_sopa_de_letras(arquivo_palavras)

20.12.24

A máquina a esmagar o talento


a. almeida

Vivemos em plena era de transformação tecnológica sem precedentes. E dizem que a procissão ainda vai no adro da igreja. A IA - Inteligência Artificial, com a sua capacidade de aprender, imitar e criar, tem desafiado noções tradicionais sobre o que significa ter talento, formação e dispôr de criatividade. No entanto, essa revolução também está a trazer à odem do dia uma preocupação profunda: a desvalorização do talento humano, sobretudo nos campos das artes, nomeadamente na gráficas e na escrita.

Durante séculos, a criação artística e literária foi um reflexo da alma humana, um testemunho, um extravasar das nossas emoções, vivências e histórias únicas. Quando lemos um romance ou um poema, admiramos uma pintura ou ouvimos uma música, somos tocados não apenas pelo produto final, mas pela jornada do criador, pelo esforço, pelo contexto que dá vida e sentimenti à obra. No entanto, o surgimento de ferramentas de IA - Inteligência Artificial capazes de produzir textos, imagens, vídeos e até melodias indistinguíveis das criações humanas desafia a percepção do valor desse esforço, desse talento natural ou aprendido.

A facilidade e velocidade com que a IA cria conteúdos podem levar, e levam de certeza, à banalização do processo criativo. Quando tudo está à disposição com um clique, perde-se a noção do tempo e dedicação que outrora eram necessários para produzir uma obra. Talentos cuidadosamente cultivados ao longo de anos de prática podem agora ser rapidamente eclipsados ou disfraçados por algoritmos que replicam padrões e estilos sem a bagagem emocional ou ética só ao alcance do ser humano.

Este cenário e contexto levantam várias questões mas uma crucial: estamos confundindo a habilidade técnica com a profundidade artística? O talento humano não reside apenas na execução, mas na perspectiva única de cada indivíduo, na sua capacidade de interpretar o mundo e transpor isso para formas que ressoam com os outros. A IA, por mais impressionante que seja, carece dessa subjectividade. Ela não sente, não vive, não ama, não sofre. Tudo o que produz é uma síntese de dados, uma simulação, por mais convincente e até incrível que pareça. 

A desvalorização do talento humano nas artes e escrita reflete uma sociedade que, muitas vezes, prioriza a eficiência e o faz de conta sobre a autenticidade. As obras de arte e os textos que antes eram celebrados como expressões de identidade agora competem com criações instantâneas, despojadas de contexto humano. Isso não apenas ameaça o sustento dos artistas e escritores, mas também empobrece nossa cultura, tornando-a menos conectada à condição humana.

Estamos nesta: Um qualquer rabisco ou patadas de tinta feitas pelo meu cão numa tela valem rigorosamente zero, mas milhões sabendo-se que foram feitas por um Picasso, Miró ou outros mestres dos gatafunhos. Ora que valor dar a uma magnífica tela produzida pela IA com base em meia dúzia de tópicos? Quem dá mais? Provavelmente aparecerá sempre alguém, pois se  há quem pague milhões por uma reles bana afixada na parede de um museu com uma fita cola da loja dos 300, porque não, por algo feito pela máquina? Tempos estranhos estes!

É fundamental que, como sociedade, não percamos de vista o verdadeiro valor da arte e da escrita humana. Devemos aprender a apreciar a diferença entre uma criação que é fruto de experiências vividas e uma que é o resultado de cálculos algorítmicos. Mais do que nunca, é vital o resgatar o respeito pelo talento, pela dedicação e pela vulnerabilidade que acompanham o acto de criar.

Mais do que nunca, a humanidade deve abraçar aquilo que nos torna únicos e insubstituíveis: a nossa capacidade de sentir, interpretar e contar histórias de formas que transcendam o mero funcionamento de máquinas. Só assim poderemos garantir que o talento nas artes e na escrita não seja reduzido a um resquício nostálgico de um passado pré-tecnológico, mas continue a ser celebrado como a essência da nossa humanidade.

Para já, se impossível é travar o processo, importa criar macanismos e regras para, pelo menos, detectar, descobrir e mesmo penalizar os lobos disfarçados com peles de cordeiros ou impedir que se coma gato por lebre. Em resumo, mais do que nunca, diferenciar e valor o que ainda é feito com base no talento natural e no esforço.

O monstro anda à solta!

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