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Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

29.11.24

Lenços brancos


a. almeida

É daquelas coisas que fazem parte do folclore do futebol: o acenar de lenços brancos ao treinador das equipas por parte dos adeptos, quando, no final dos jogos, os resultados correm consecutivamente mal. Já aconteceu com o Sporting, com o Benfica e, agora, com o F.C. Porto. Acenam os mais sensíveis ou instáveis, os mesmos que, quando as coisas correm bem, fazem juras públicas de amor incondicional e esgrimem argumentos como o ADN, o carisma e a mística. Tretas!

Mas, a meu ver, se algum significado se deve atribuir ao acenar dos lenços – ou guardanapos, porque hoje em dia ninguém usa lenços para assoar – esse gesto deveria ser extensível a todo o plantel e não apenas ao treinador. Afinal, ele é, porventura, quem tem menos influência directa no mau desempenho: não falha passes, não remata, não falha golos de forma descarada, nem sofre "frangos" ou, por indisciplina, deixa a equipa a jogar com menos elementos.

Isso sim, seria justificado!

28.11.24

Miséria perfumada


a. almeida

Ontem, por volta das 20:20 horas. No intervalo de uma série, no Star Crime, a habitual carga de publicidade. Nunca irei compreender o motivo de num serviço de televisão pago, os clientes terem que ser bombardeados com horas de publicidade. Adiante!

Mas dizia, entre anúncios de perfumes e relógios, e nestes até há um Maserati, que para além de fazer uma coisa banal que é informar das horas, dá a impressão que nos querem vender um carrão, surge um anúncio a solicitar apoio à UNICEF para acorrer às criançinhas com fome.

Confesso que fico atordoado com o critério deste encaixe entre uma realidade dura do mundo e itens de luxo só ao alcance de alguns. Fico pasmado não pela surpresa mas pelo desplante da coisa. Talvez entendam que meter a fome e a pobreza entre perfumes a coisa cheire menos mal. Talvez!

Quanto à UNICEF e suas causas, sou pobre mas já por diversas vezes tenho feito os meus contributos, sobretudo para estas realidades ligadas à alimentação, saúde e educação das crianças nessa castigada zona do corno de África. Apesar disso, quase nunca recebo os comprovativos dos recebimentos. Estranho, ou não, mas também dá que pensar e mesmo duvidar do destino do apoio.

Vamos, pois, indo e andando, nesta dicotomia,do luxo e do consumismo, por um lado, e da pobreza e miséria humana, por outro. A minha esperança é que no meio da estupidez e da fartura da publicidade alguém com carteira capaz de comprar umas gotas de perfume ao preço do ouro ou um relógio ao custo de um automóvel possam num rebate de consciência ou mesmo de vergonha, dispensar momentaneamente dessa compra e ofertar à UNICEF o correspondente valor.

Porque já cheira a Natal, mesmo que não acredite no Pai Natal, vou crer que sim!

26.11.24

Maldade


a. almeida

Bem sei que nada fiz
Ou de errado disse,
Pelo que nesta paz
A inocência mora em mim;

Mas o mal tem raiz,
Na filha-da-putice,
Na boca de quem faz
A blasfémia como um fim.

O mal há-de sempre ser pasto
Fértil, nele o fogo a devorar,
A entretecer de cinza um manto
A cobrir de fel o leito da verdade;

Mas porque sempre deixa rasto,
O bem o seguirá até encontrar
E num momento pleno de encanto
Extinguirá a vil chama da maldade.

25.11.24

Vinte e cincos, for ever!


a. almeida

Não vou dar-me a esse trabalho, de contar quantos, mas presumo que vários blogues darão enfoque ao que foi o 25 de Novembro de 1975. Uns a exaltar outros a menorizar. Sei, sabemos, que passam neste dia 49 anos sobre o acontecimento e importa dar-lhe lugar e lembrança. Para o próximo ano serão 50 anos. Merecerá uma celebração maior.

Não sou historiador mas sei ler, escrever, presumo, estudar e interpretar, para além de já andar pelo mundo nesse tempo. Por conseguinte, do que sei, o 25 de Novembro de 1975 não substituí, de todo, a importância que teve o 25 de Abril de 1974, porque esta resultou na queda da ditadura e da conquista do direito à liberdade, mas tem a sua própria, que foi a da consolidação da democracia e dos propósitos do 25 de Abril. Como o têm dito vários historiadores menos dados a alinhamentos, uma data não substituí a outra mas antes complementam-se, porque sem a de Abril não existiria a de Novembro e sem esta a outra teria sido um acontecimento em vão, inútil.

Fora desta realidade, com mais ou menos curvas, grupos dos 8 ou dos 9, com ou sem Mários Soares, Eanes, Carluccis e outros jokers da esquerda à direita, o acontecimento de Novembro de 1975 tem sido esgrimido de forma indevida, onde alguns partidos tentam apropriar-se da sua génese e outros procuram ignorá-la, retirar-lhe toda a importância, porque, percebe-se, as suas consequências, a clarificação e o encarreiramento na democracia, foram contrárias aos seus propósitos de estabelecimento de uma outra ditadura, agora de esquerda. Por eles seríamos uma Cuba na ponta da Europa, sem tirar nem pôr, quiçá uma Coreia do Norte ocidental.

Por conseguinte, sem surpresa, o PCP, partido cujos deputados cabem num Mini, vai ficar de fora da sessão comemorativa na Assembleia da República e mesmo o Bloco terá apenas uma sombra solitária a marcar o ponto. Também de fora, essa coisa designada de Fundação 25 de Abril. Como diz o ditado, "fazem tanta falta como uma viola num enterro".

Em todo o caso, esta dicotomia em torno das duas datas e dos correspondentes acontecimentos, têm feito  e continuarão a fazer parte da nossa História colectiva e mesmo do folclore político e ideológico.

25 de Abril, sempre! 25 de Novembro, for ever!

22.11.24

Incerteza


a. almeida

Vivo neste cuidado até me cansar,
Numa permanente busca do perdido,
Até que logrando, feliz, encontrar,
Me dê, enfim, como bem merecido.

Mas na vã incerteza de tal labuta
Fico quase perdido, em sofrimento,
Em saber se venci ou perdi essa luta
Ou se dela tive algum merecimento.

Um rio, se nasce para o mar corre
E nada se encontra se não perdido;
Então, sem nascimento, quem morre,
E sem luta quem se dá por vencido?

Talvez seja assim o meu destino:
Uma ânsia continuada de indagar,
Ir ao encontro do toque do sino,
A saber se por festa ou por chorar.

19.11.24

Serenidade


a. almeida

Corre em mim um rio manso
Na planície suave da alma,
Onde há uma brisa a soprar;
Como ele corro e não canso,
Deslizo nele em plena calma,
Na aceitação plena do mar.

Na tarde que se faz dourada
Há um silêncio de céu aberto
Num azul profundo mas suave;
Deseja-se só a paz, mais nada
Para além do ficar mais perto
Do colo materno que se abre.

18.11.24

Nem Pilatos fez melhor


a. almeida

Tenho para mim que a ministra da Saúde, Ana Paula Martins,  bem como a da Administração Interna, Margarida Blasco, não têm condições de continuar em funções nos respectivos ministérios. Estar a segurar estas azelhas é para o Primeiro Ministro e para o Governo um factor de desgaste que não se justifica e com custos a jusante.

Apesar de tudo, tanto ou mais que esta óbvia azelhice, chateia a despudorada descaradeza e mesmo hipocrisia por parte de Pedro Nuno Santos e seus correligionários socialistas,  bem como dos partidos insignificantes que com ele geringonçaram quase uma década, como se nada tivessem a ver com este descalabro estrutural da Saúde, do INEM, e por aí fora. O barco há muito que mete água por todos os lados e com tantos buracos torna-se difícil acudir a todos quando faltam mãos e dedos, tanto mais desajeitados.

Parece-me, pois, que sobreetudo no caso da ministra da Saúde não será necessário vir a ser determinado o nexo de causa/efeito no atraso do INEM e falecimentos decorrentes, para que tenha que se demitir ou ser afastada.

Para além do mais, é perigoso este caminho de por si só relacionar mortes a atrasos no socorro, sobretudo em pessoas de idades avançadas e com patologias de risco, tantas vezes distantes dos pontos de socorro e unidades hospitalares, porque sempre aconteceram e acontecerão, mesmo que não com a gravidade do atraso ou mesmo falta de resposta dos casos agora em questão. Sempre que o socorro chega a um episódio de emergência será sempre especulável considerar se uma vida seria salva se a ambulância ou o helicóptero tivessem chegado mais cedo, 2, 5 ou 10 minutos ao local, ou depois ao hospital. Tem pouca seriedade quem ousar ter certezas a este nível mesmo que pela lógica todos saibamos que a rapidez com que se socorre em muitos casos faz ou pode fazer a diferença.

Infelizmente esta gente política não se manca, como se costuma dizer, e diariamente agem como se inocentes, como se durante as suas responsabilidades governativas e partidárias tivessem passado incólumes por entre os pingos da chuvada. Por mim vêm de carrinho, mas que irritam, irritam!

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