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Diário de quem já não vai para novo

...e sem paciência para seguir o rebanho.

Diário de quem já não vai para novo

...e sem paciência para seguir o rebanho.

31.07.24

O directo não é gago


a. almeida

Já expressei por aqui a  opinião sobre o espectáculo de abertura dos Jogos Olímpicos em Paris. Porventura dissonante da larga maioria, mas é minha.

Soube-se agora que uma das cenas, com a "francesa" Lady Gaga", afinal foi exibida em deferido, por isso filmada num período anterior e dada a "comer" ao mundo televisivo como que em directo, a sair quentinha do forno. Houve quem o notasse e daí a polémica, mas no geral a maioria comeu sem espinhas.

Foi obviamente uma situação inédita, fraudulenta, enganosa e que para além das justificações da produção à posteriori, em nada atenuam uma realidade de que estas coisas são mesmo e apenas para a televisão, onde nem sempre o que parece é. Ora um dia destes seremos totalmente enganados, comidos de cebolada, e um espectáculo destes dado como directo não passará, afinal, de uma manta de retalhos, uma montagem cinematográfica, produzidos em diferentes tempos e lugares, retocados ao máximo. E mesmo assim não faltarão odes, adorações e venerações, porque por estes tempos é disto que os dependentes televisivos precisam para lhes dar pica.

Para além de tudo, no caso, os Jogos, mesmo que já há muito afastados dos seus valores e propósitos primordiais, e convertidos aos interesses da indústria televisiva e do entretenimento, não precisavam nada destas merdices. Bastaria o tradicional desfile à volta da pista e logo de seguida o principal, os atletas, as provas e as competições. Tudo o resto não faz falta à ementa. É mesmo acessório e como tal, dispensável.

30.07.24

A próxima já está igualmente ganha


a. almeida

Já se sabia no que ía dar o resultado das eleições presidenciais na Venezuela. 2+2 continuam a ser 4. Pouco importa esgrimir aqui o óbvio. Num regime como o do Nicolas Maduro, nunca há surpresas. Tudo decorre conforme previsto.

Entretanto, vários países já felicitaram Maduro pela vitória, com destaque para a Rússia, Cuba, China e Irão, exemplos cimeiros da "democracia" e transparência. Um bom naipe. Não confirmei se também a Coreia do Norte, outro modelo de liberdade, mas é de supor que sim. Por cá, o PCP, que, mesmo a caminho da extinção não deixa os créditos por mãos alheias, saudou a eleição do vencedor antecipado, do "conjunto das forças progressistas, democráticas e patriotas venezuelanas" e condenou a reação do Governo português que com outros países, demonstraram grande preocupação com a transparência das eleições na Venezuela.

Que mais não fosse, bastaria este conjunto de países e o PCP a assinar por cima para garantir que por ali tudo continua como deve continuar e à altura de ambos os regimes. Tudo o resto, o que pudesse conduzir a um processo de facto transparente e escrutinado é coisa que não vai à mesa do rei, do ditador.

Siga! A próxima, queira ele, já está igualmente ganha.

29.07.24

Eufemismos olímpicos


a. almeida

Em pleno século XXI, num mundo global e globalizado, ainda custa a crer que procurem vingar certos eufemismos como o dos valores desportivos olímpicos, etc. Ou é música para adormecer gado ou então é gozo. Chamem-lhe o que quiser, negócio, indústria, etc, etc, mas não conspurquem a coisa com eufemismos desajustados.

Os Jogos Olímpicos estão convertidos, de há muito, num evento ao sabor da geopolítica e da indústria do entretenimento. Já não competem apenas desportistas amadores mas também os altamente profissionalizados e, dependendo da popularidade e interesse comercial das modalidades, muito bem pagos.

Mesmo o seu lema, “mais rápido, mais alto, mais forte” parece encaixar-se não nos méritos desportivos dos atletas mas apenas na importância comercial, industrial e orçamentos de cada evento e da sua relação com quem detém os direitos, organiza, promove e vende. O resto é fachada.

Em resumo, chamem-lhe o que quiserem mas não nos enganem.

27.07.24

Uma espécie de parada à chuva


a. almeida

Vi apenas uma parte e confesso que não gostei. Apenas um ou outro apontamentos interessantes.

O espectáculo de abertura dos Jogos Olímpicos em Paris pode ter sido em grande, diferente do habitual, mas sem grande coisa. De resto, feito e pensado quase exclusivamente para a televisão e, sem chuva. Parece que, aberto o céu, os jornalistas nem toldes ou plásticos tinham para se protegerem e ao equipamento, mas nestas coisas poupa-se no essencial para se gastar no acessório, como quem diz, economia na farinha para esbanjar em farelo. E era necessário que assim fosse, um espectáculo televisiso, pois seria impossível de outro modo, até  pelo "estado de guerra" em que está a cidade das luzes.  

No geral, e do género, já vi melhores quadros em paradas de orgulho gay. Foi uma apologia a esse movimento, como se fosse disso que se tratasse. Não fosse o desfile de atletas a agitarem as respetcivas bandeiras e parecia mesmo uma parada de um grupo específico. O assunto eram os jogos, mas já sabemos que em Paris e na França les jeux sont différents. Se a maioria dos demais países participantes têm outras culturas e valores, porventura mais reservados e menos dados à apologia da promiscuidade, a França"caga-se" para isso.

Alguns comentários babados e rendidos, exaltam que foi um espectáculo a demonstrar que não devemos ter "medo" nem nos rendermos a ele. Para esses apatece perguntar, o que fazem então todos aqueles largos milhares de polícias e todo o aparato militar que por estes dias fazem de Paris uma cidade fortaleza? Para proteger quem e do quê?

Vive la France!

Notas posteriores: A paródia à "Última Ceia", é a todos modos ofensiva, despropositada, e como diria o outro, "não havia necessidade". Mas havia, porque a França nisto é especialista.  Celebrar a "tolerância"  com representações ofensivas não é seguramente o modo certo de o fazer. A França está habituada a celebrar a tolerência com violentas manifestações de rua, pelo que tem fraca escola.

Curiosamente, desta vez (porque será?) escaparam às ofensas a religião muçulmana. É que provavelmente já não há polícias suficientes para aumentar o reforço da segurança que tal ofensa exigiria. É assim paradoxal que num país que se identifica como "tolerante", se proponha, num contexto de um evento global e multi-cultural, racial e religioso,  a ofender gratuitamente culturas e religiões. E anda preocupada com questões de segurança? Quem não deve não teme, mas a França teme, porque em variadas situações se expõe e põe a jeito. 

Vive la France!

 

26.07.24

Dizem que hoje é dia dos avós


a. almeida

Esta coisa do Dia de Qualquer Coisa só serve para isto mesmo, quase sempre para nada. Quanto ao dia de hoje parece que é  Dia dos Avós. Pelas redes sociais vamos vendo partilhas mais ou menos em tom carinhoso e de reconhecimento pelo papel dessas pessoas, muitas delas, como as minhas, já desaparecidas. Já se foram, de facto, os meus avôs e avós paternos e maternos. Uma, a materna, nem sequer cheguei a conhecer; o último, o meu avô materno e padrinho, a quem ajudei a cuidar nos último tempos, já faleceu há quase 25 anos. De cuidados, não me lembro de os ter tido senão apenas pela minha bisavó materna, essa sim, cuidadora e que em muito ajudou a minha mãe na criação dos três filhos mais velhos. Dos restantes não tenho memórias de grandes ou pequenos afectos. Do avô que mais tarde faleceu, o afecto era apenas de palavras e promessas vãs, porque de acções nunca as senti.

De facto, no geral não é preciso escrever muito para destacar a importância dos avôs, sobretudo no contexto actual em que tantas vezes ocupam os papéis dos pais. A banalização do divórcio ainda veio acentuar mais essa ligação, porque fundamentais a unir as pontas soltas (os filhos) que ficaram do desunido (os pais).

Em resumo, muitos avós, e sobretudo os que estão por casa ou já em reforma, são pais, encarregados de educação, regra geral têm ao serviço a sua casa como hospedaria e restaurante e quase sempre à borla, tudo por amor, dedicação e ajuda aos filhos e por eles aos netos.

O papel dos avôs neste contexto poderia ter algum reconhecimento e ajuda do próprio Estado, mas não, de todo.

Também do que vejo, e mesmo com conhecimento de causa e sem moralismos, porque não dou lições a ninguém, tantas vezes o amor e retribuição dos netos, já quando crescidos e de maior idade, aos avós, não passa de situações de circunstância, em festas ou festinhas, porque depois, no essencial, ajudar a limpar, vestir, calçar e alimentar, acompanhar ao médico, etc, a coisa já pia mais fino e quase como no para apanhar batatas, quase nunca aparecem. Muitas vezes o nosso amor pelos nossos pais ou avós é mesmo em serviços mínimos e como fretes a evitar ou a deixar para outros. Abençoados lares que remedeiam a nossa ingratidão e descompaixão.

Mas vivemos nesta dicotomia, porque no geral somos todos frouxos e pouco dados a sermos perturbados nas coisinhas do nosso dia a dia para darmos atenção afectiva e efectiva aos nossos pais ou avós quando estes já dependentes e doentes precisam de cuidados diários e constantes, como acontece com a minha mãe a que todos os dias cabe-me a responsabilidade de fazer tomar os medicamentos, dar jantar e ajudar a deitar. Os demais irmãos complementam tais tarefas ao pequeno-almoço e ao almoço.

Mas, mesmo que neste dia e sobretudo para a efemeridade das redes sociais,  fica sempre bem dizermos e mostrarmos coisas bonitas sobre os nossos avós, se possível com uma fotografia a condizer, mesmo que nada diga.

Somos assim.

26.07.24

Panchorra? Onde é que fica isso?


a. almeida

monsanto.jpgPor vezes, muitas vezes, sinto-me algo anacrónico, fora de tempo e contexto. Será da idade de quem já não vai para novo? Será, quase com toda a certeza!

Os da minha geração têm que enfrentar de caras, como numa tourada diária no campo grande que é a vida, o bicho cornudo que é o intervalo que vai do 8 ao 80. Porque tivemos a oportunidade de ver e vivenciar tudo e agora o seu contrário.

Os mais novos, os que já pelos 30 ou mesmo 40, esses já nasceram num tempo em que o bicho da diferença andaria ali pelos 60, e com isso o salto aos 80, bem menos arriscado e impactante.

Nesta amplitude, a malta nova é cosmopolita. Pensa tudo em grande e à francesa. Viajar, só se para fora do país e quanto mais longe, melhor. Ir a Espanha como quem ía a Badajoz, a Ciudade Rodrigo ou a Tui aos caramelos, é coisa pequena e de quem ía passear com farnel em cesta de vime na camioneta da carreira.

Açaimado pelos tempos do 8, dou comigo a deliciar-me a visitar vilas e aldeias do nosso Portugal, mesmo do mais profundo, a subir escadas e a descer veredas, a contornar montes e vales, a indagar igrejas, capelas e pelourinhos, a procurar saber de histórias e gentes e locais. E quanto mais vejo mais me falta ver, e com isso sem tempo para transpor a fronteira, nem mesmo para ir aos caramelos.

A Londres, Roma, Paris ou Nova Iorque, e outras que mais franças e araganças, só por postais ou metendo-me no taxi do Google Street View.

Mas não me incomoda nem me menoriza, porque tivesse esse desejo, como a maioria pregava uns calotes e lá ía voar para ali e para acolá, a enriquecer o portfólio de viagens, a provocar inveja aos amigos nas redes sociais.
Mas não! De resto faz-me confusão que em conversa com alguns conhecidos, estes se gabem de já terem estado à sombra das pirâmides de Gizê, a molhar os pés na Fonte de Trevi, a olhar pelo monóculo da Torre Eiffel, a espreitar pela coroa da Liberty Statue ou a chupar um gelado por Copacabana quando, vai-se a ver, sendo portugueses do norte, nunca foram a Arouca, a Lamego ou a Bragança. Vejam agora quanto mais conhecerem Sortelha, Alfaiates, Monsanto, Cidadelhe, Muxagata, Regoufe, Rio de Frades, Lomba de Arões, Serapicos, Tourões, Sistelo, Gralheira, Panchorra ou Pretarouca? Onde é que fica isso?

 A pergunta pedia que respondesse  "abaixo de Braga", mas como educado que sou, sugiro que melhor é melhor irem à Agência Abreu! Devem ter pacotes em preço!

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25.07.24

Deixem a democracia funcionar - What’s up, doc?


a. almeida

Passando os olhos pelas "gordas" do "internacional" do Diário de Noticias online percebe-se qual o seu partido relativamente à corrida à Casa Branca. Decidisse o DN e a Kamala já estaria na sala oval a tomar decisões, a derrubar muros, a abrir portas, a promover a banalização do aborto como quem vende pãezinhos quentes com chouriço. Com Kamala, as americanas terão a garantia de que depois de uma noite de farra, copos e irresponsabilidade, se a pílula do dia seguinte falhar poderão recorrer à solução final, sem qualquer esmorecimento, impedimento legal, moral ou de outra natureza, bem à americana porque, afinal, é por ali que fica Hollywood e Las Vegas.

Por mais bronco que se considere Donald Trump, e não vou à sua missa, creio merecerem um bocadinho de mais respeito todos os seus muitos milhões de apoiantes, mais ou menos ferverosos. Importaria, parece-me, que seria mais assertivo procurar as razões que concorrem para que uma figura como Trump, depois de uma derrota por poucochinho, e mesmo com todas as cascas de banana que lhe foram sendo espalhadas ao longo do caminho, como os vários processos judiciais, não tenha encontrado dentro dos republicanos e agora pelos democratas, um concorrente à altura, e pelo que as "isentas" sondagens vão dizendo, mantém intactas todas as possibilidades de voltar a vencer.

Acontece que mesmo com a comunicação social a assumir um papel que por princípio não devia ter, o da parcialidade, as coisas, ainda que moldadas com essas influências mais ou menos descaradas, serão sempre dicididas pelos cidadões e pelos seus votos. 

Do que tenho visto da concorrente emergida do mar de gaffes e inaptidões de Biden, todo o seu discurso centra-se não nas ideias transformadoras que pretende para a América, mas sobretudo na velha doutrina do "tudo ou nada", do "bem e mal", na diabolização da figura de Donald.

Poderá ser tudo isso ou o contrário, mas, porra, se os Estados Unidos se orgulham da sua sólida democracia, deixem que sejam os mecanismos desta a decidir, para além de que todos os eleitores serão de maior idade, com capacidade de escolher por eles próprios, sem diabolizações e estigmas. SeráTrump a saír na rifa? Kamala? Que seja, porque, para o bem ou mal, ou o contrário, será sempre a democracia a funcionar. 

What’s up, doc?

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