Num certo blog cá do sítio, a autora colocava a questão se era possível alguém votar no partido Chega e ser uma boa pessoa. Por considerar tal partido como "racista, xenófobo, machista, homofóbico, formado por pessoas bafientas, com ideias retrógradas e cheios de preconceitos" concluía que não, e que mesmo que até fossem queria vê-las ao longe. Legítimo, digo!
Tenho também para que mim que não, seguramente para alguns, ou mesmo muitos desses eleitores, mas não chego a tanto, e parece-me que generalizar, pagando o inocente pelo pecador, não ajudará. De facto, mesmo que em abstracto, poder considerar más pessoas centenas de milhares de eleitores apenas porque escolhem uma força política, é francamente exagerado, porque quero crer que as motivações no voto, no caso no Chega, no essencial e não se prendem necessariamente com a identificação nos adjectivos que a autora enumera.
Que possa haver défice de auto-escrutínio e erosão de alguns valores, seguramente, mas que em muito uma reacção a um sistema que pela via normal e dita democrática tem falhado, também acho que sim. No fundo será um protesto e um apoio em alguém que, de forma mais exagerada e radical, parte a louça, mas que com isso tem a vantagem de alertar para o quê ou quem tem dado motivos e combustível para deflagrar os populismos. No fundo os supostos eleitores que dizem que vão dar 20% ao Chega estão apenas a contratar alguém que na casa da democracia pode dar uns abanões a quem, de forma muito presumida, politicamente correcta e dona de moralismos sanitários entre direita e esquerda, e vice-versa, nos anda a fazer bullying há décadas. Sei que não é politicamente correcto dizê-lo, mas à laia do João Soares que aqui há uns anos prometeu umas "salutares bofetadas" ao Augusto M. Seabra, também muita da nossa presunçosa classe política anda a "merecê-las".
Quanto às más pessoas, também quero vê-las sempre longe de mim. Já quanto às boas, até prova em contrário, são sempre boas pessoas, mesmo que pensando de modo diferente e até sendo adeptas de outro clube que não o meu Benfica.