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Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

29.02.24

Desejado fruto


a. almeida

FLOR_PESSEGUEIRO.jpg

Olha, vê amor,
Os pessegueiros já a florir
Num dia assim, ameno, enxuto;
Com tempo e calor
Em cada flor há-de ressurgir
O esperado, desejado fruto.

Vê que singeleza,
O rosado das flores,
Em sabores prometidos;
Há nelas a certeza
Da leveza das cores,
Do peso dos sentidos.

29.02.24

Onde habita o segredo


a. almeida

Para lá das portas onde habita o segredo
Há labirintos intrincados, imaginários;
Teu corpo é prisão que me tem em degredo,
Onde vou penando por pecados solitários;

Não sei quantos quartos tens fechados
E neles quantas camas já remexidas,
Com lençóis húmidos de corpos suados
Onde se encontraram ou perderam vidas.

Mas há em mim esta constante tentação
De te ter toda aberta, acolhedora, pura,
Possuir a chave mestra da fechadura,
Aceder à profundidade do teu coração.

Não sei que segredos guardas, zelosa,
Como a mais bela pérola a rude ostra,
Como espinhos a envolver a suave rosa,
Como seguro jogador a fazer a aposta.

Não sei que segredos tens escondidos
Nem em que gavetas e cofres encerrados,
Tão pouco se os tens, porque já perdidos,
Ou se apenas, sem pena, desencontrados.

29.02.24

Gratuito! Upa, upa!


a. almeida

Uma certa Junta de Freguesia cá do sítio, no Facebook anunciou como "novidade" aulas de fitness para toda a população, "totalmente gratuito". Numa das partilhas da "novidade", alguém considerou que "isto é que é uma freguesia preocupada com os habitantes".
Respeitando ambas as coisas e o "benefício fantástico" de "tão espectacular medida", questiono o que é que as pessoas acham do "totalmente gratuito". Se os orientadores, a utilização do espaço, os gastos com electricidade, a limpeza e outros associados forem mesmo oferecidos, pró bono, à borlix, acho que sim, é de aproveitar a quem gosta da coisa. Dê-se já um voto de louvor a essa boa gente.

Já se a coisa, aos orientadores, os espaços, água, electricidade e logística, se traduzirem em despesas do orçamento da Junta, aí o "gratuito" tem que se lhe diga. É o que o orçamento das Juntas vem de algum lado, das Câmaras, do Estado, e no fim da linha dos impostos e taxas dos contribuintes.

Por conseguinte, e é aqui onde pretendo chegar, o conceito de "gratuito" nestas e noutras similares coisas é sempre muito relativo. Fazer brilharetes com o dinheiro dos outros, mesmo que dos contribuintes, é sempre uma alegria e partilhado nas redes sociais tem impacto e cheira a coisa bonita e há quem goste. As Juntas e as Câmaras, particularmente, são experts a jogar com estas borlas.

Num tempo em que ninguém dá nada a ninguém, e até o ar que se respira em Fátima é vendido engarrafado, espanta que alinhemos com facilidade nestas cenouras à frente do burro sem qualquer sentido crítico quanto a qualquer forma embuste ou mais prosaicamente de "engana-me que eu gosto".

28.02.24

Iluminado


a. almeida

candle-2631921_960_720.jpg

És vela acesa na escuridão,
A rasgar o mais denso breu
Como na falésia o farol;
O dia tem luz do teu clarão
A iluminar todo o meu céu
Como se dele foras o sol.

28.02.24

Climax, sem preliminares


a. almeida

cascata do outeiro.jpg

Num certo grupo do Facebook, partilham-se fotos e experiências de locais bonitos em Portugal. Uma fartura deles. Numa das publicações alguém partilhou a beleza da Cascata do Outeiro, na freguesia de Pindelo, concelho de Oliveira de Azeméis. No momento em que li, mais de 1000 likes, mais de 200 partilhas, quase uma centena de comentários, entre admirações e esclarecimentos de como chegar ao local e acessos e, contudo (admitindo que me possa ter passado), nem uma única referência ao nome do rio onde se desenvolve a tão bonita e admirada quanto desconhecida cascata.
De facto trata-se do rio Antuã, vindo ali da zona das Alagoas na freguesia de Escariz - Arouca e que desagua na ria de Aveiro entre Estarreja, Salreu e Murtosa.

Em resumo, nem sempre damos valor a coisas que são importantes e andamos às voltas com comentários e considerações mil, sendo até capazes de ver agulhas em palheiros, mosquitos em África e com o óbvio a passar-nos ao lado.
Em parte isto desculpa-se pelo facto de pelos tempos que correm a informação chegar-nos às paletes, em quantidade tal que a modos de nem termos tempo de a absorver e por isso, impacientes ou assoberbados, passamos à frente, como a antecipar o desfecho de um filme ou de uma história em livro.Já não somos de preliminares e avançamos logo para o climax, para o orgasmo.

 

Notas à margem:

A propósito do nome do rio Antuã, há uma velha questão quanto à correcta designação, sobretudo quanto aos troços que se juntam ligeiramente a sul do Parque Molinológico de Ul. Se desse ponto para baixo e até à foz não residem dúvidas, já quanto aos troços a montante uns consideram que o do lado poente é o rio Antuã (o que condiz com a cartografia oficial do Exército), sendo neste caso o troço do lado nascente designado de rio Ínsua; outros asseguram o contrário e vice-versa.

Esta confusão levou até a Câmara Municipal de S. João da Madeira a alterar o nome, incluindo o que referencia o Parque da Cidade,  já que chegou a tê-lo inicialmente como rio Antuã e alterado posteriormente para Ul. Parece que existem referências antigas a ambos os nomes mas que em vez de ajudarem ao esclarecimento tornam-no irresolúvel. A ajudar na designação do rio Ul o facto de passar junto a localidades com esse nome, como é o caso de S. Tiago de Riba-Ul e Ul.

Em todo o caso esta questão de confusão em nomes de rios é comum e desde logo porque é também corrente o mesmo rio ter diferentes designações dependendo dos locais e terras por onde passa. Mas, de algum modo, seria interessante ou mesmo importante que as entidades idóneas e responsáveis por estas coisas definissem e atribuissem oficialmente o seu a seu dono.

 

[Foto - Créditos: Jaime Aam - Voz Portuense]

28.02.24

Boas e más pessoas


a. almeida

Num certo blog cá do sítio, a autora colocava a questão se era possível alguém votar no partido Chega e ser uma boa pessoa. Por considerar tal partido como "racista, xenófobo, machista, homofóbico, formado por pessoas bafientas, com ideias retrógradas e cheios de preconceitos" concluía que não, e que mesmo que até fossem queria vê-las ao longe. Legítimo, digo!

Tenho também para que mim que não, seguramente para alguns, ou mesmo muitos desses eleitores, mas não chego a tanto, e parece-me que generalizar, pagando o inocente pelo pecador, não ajudará. De facto, mesmo que em abstracto, poder considerar más pessoas centenas de milhares de eleitores apenas porque escolhem uma força política, é francamente exagerado, porque quero crer que as motivações no voto, no caso no Chega, no essencial e não se prendem necessariamente com a identificação nos adjectivos que a autora enumera.

Que possa haver défice de auto-escrutínio e erosão de alguns valores, seguramente, mas que em muito uma reacção a um sistema que pela via normal e dita democrática tem falhado, também acho que sim. No fundo será um protesto e um apoio em alguém que, de forma mais exagerada e radical, parte a louça, mas que com isso tem a vantagem de alertar para o quê ou quem tem dado motivos e combustível para deflagrar os populismos. No fundo os supostos eleitores que dizem que vão dar 20% ao Chega estão apenas a contratar alguém que na casa da democracia pode dar uns abanões a quem, de forma muito presumida, politicamente correcta e dona de moralismos sanitários entre direita e esquerda, e vice-versa, nos anda a fazer bullying há décadas. Sei que não é politicamente correcto dizê-lo, mas à laia do João Soares que aqui há uns anos prometeu umas "salutares bofetadas" ao Augusto M. Seabra, também muita da nossa presunçosa classe política anda a "merecê-las".

Quanto às más pessoas, também quero vê-las sempre longe de mim. Já quanto às boas, até prova em contrário, são sempre boas pessoas, mesmo que pensando de modo diferente e até sendo adeptas de outro clube que não o meu Benfica.

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