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Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

Diário de quem já não vai para novo

...porque as palavras são a voz da alma.

31.01.24

Caminho


a. almeida

caminho.jpg

Quem no caminho vai ofegante
E não tem olhos para uma flor,
Singela, pobre, na borda dele,
Não é mais que um caminhante
Apressado, carregado em suor,
Qual abelha a mourejar por mel.

Importa avançar, olhar adiante,
Mas no destino, seja qual for,
Haja a doçura não somente fel;
Uma flor nos olhos é calmante
Que suaviza a rudeza, o torpor,
Do caminho mais duro e cruel.

AA

31.01.24

Alma e emoção


a. almeida

alma.jpg

Caminho sozinho na plena imensidão,
Em silêncio íntimo, sem ruído de vozes,
Todo dormente numa indiferença passiva;
Afinal, no fim de contas, conta a emoção
Como brisa soprada p´los ventos velozes
A enfunar as velas de um barco à deriva.

Tod´o homem sozinho nunca estará só
Se tiver de companhia a alma e emoção,
Mesmo que triturado como grão sob a mó
No destino sagrado de se dar e ser pão.

AA

31.01.24

Perfeitos na imperfeição


a. almeida

Não sou perfeito e ainda bem! E todos nós! Afinal a natureza é ela própria imperfeita, se não na sua essência pelo menos na forma como cada um de nós, ínfima criatura, a vê, a define e julga.

Somos em grande parte uma súmula de egoísmo, o querer sol na eira e chuva no nabal. Incomoda-nos que no dia de uma nossa festa chova mas não nos ralamos se tal acontecer no divertimento do vizinho. Vemos com a nossa miopia o pequeno defeito nos semelhantes mas nem com lentes de aumento os descobrimos em nós.

No resto, se admiramos com deslumbramento as belezas da natureza e da sua criação, no mundo animal e vegetal, porque raio tem que haver terramotos a rasgar a terra e a derrubar as nossas criações, tempestades a fustigar mares e terra e vulcões a vomitar fumo, cinza e lava? Porque não apenas amena calmaria e doces bonanças ou, se mesmo necessárias essas diatribes, porque não mais suaves, benevolentes?

Resulta de tudo isto que a perfeição talvez seja precisamente o equilíbrio destas duas realidades. Quanto a mim têm razão os orientais com a filosofia taoista do Yin-yang, que expõe a dualidade de tudo quanto existe no universo e por arrasto na natureza, da terra e nossa. Por ela são descritas as duas forças fundamentais que se opõem e complementam entre si.

Somos assim perfeitos na imperfeição, satisfeitos na insatisfação, murchos na erecção.

31.01.24

Lei da vida


a. almeida

Puta de vida! É uma exclamação comum e corriqueira e que de algum modo pretende ser um desabafo, um lamento ou revolta de alguém que não se contenta com o que ela, a vida, lhe deu ou reservou.
Barafustamos por coisa de grande monta ou por tudo e por nada. Raramente estamos de bem connosco, quanto mais com os outros. Quase nunca com a vida. E talvez por isso a classificamos como de puta, como as verdadeiras, a quem se paga por uns minutos de prazer, mas que feitas as contas raramente o são porque ninguém se remedeia ou satisfaz com o que não é autêntico. O prazer tem que ser pleno caso contrário não passa de uma ilusão, de um faz de conta.

Haverá sempre quem venda ilusões e quem as compre. É a lei do mercado! É a lei da vida!

31.01.24

Fanfarrões activos


a. almeida

Vi pelo X, uma partilha de supostos activistas anti-fascistas e anti-racistas, ou lá o que isso queira significar, a queimarem  um Outdoor do CHEGA, filmado e partilhado o acto. E com um comunicado: "Este ano comemoram-se os 50 anos do 25 de Abril — o suposto fim do fascismo. Mas o fascismo continua vivo."

Não deixa de ser paradoxal que alguém, individual ou grupo, use de métodos e meios que condenam precisamente ao fascismo ou a regimes totalitários, sonegando o direito à liberdade e ao pensar diferente. Por estas e por outras é que estes activistas nunca passarão de uns fanfarrões à procura de tempo de antena, a quem ninguém com um palmo de testa lhes dá credibilidade. Deviam, por conseguinte, ser tratados pela autoridade e justiça como meros deliquentes, vândalos e arruaceiros e pagar os bois ao dono. Umas semanas na choldra e não lhes faria mal algum .

Não sou de todo, nem de longe nem de perto, adepto ou sócio do Chega, mas se estivesse com dúvidas quanto a uma eventual intenção de voto ou militância, esta acção seria um bom empurrão. Por estas e por outras é que a coisa continua a crescer e vive precisamente destas manifestações.

Deixem-se disso, crianças, e respeitem o que dizem defender, a democracia, o espírito de tolerância e direito à diferença, goste-se ou não! Querem ser activos? Não falta onde plantar e cavar batatas!

Dentro do mesmo contexto, embora sobre a não autorizada manifestação em Lisboa por movimentos relacionados com a extrema-direita,  concordo com António Barreto que num interessante artigo de opinião escreveu no Público e no Sorumbático "(...) A ideia de que se pode proibir alguém, racista, xenófobo ou antidemocrata, de pensar, ter opinião e divulgar os seus pontos de vista é um grave passo atrás na democracia, é uma perversão da tolerância, é um atentado contra alguns dos direitos e liberdades fundamentais da democracia." (...)

"Se a democracia portuguesa não consegue viver com antidemocratas e com racistas ou xenófobos é porque é fraca, frágil e medrosa. A democracia defende-se com métodos legítimos e com força democrática, sem recorrer a meios ilegítimos. Sem pisar o risco.".

31.01.24

Alguém anda a comer o meu naco


a. almeida

Segundo dados relativamente recentes da FAO - Organização para a Alimentação e Agricultura, uma agência especializada das Nações Unidas, Espanha e Portugal são os países que a nivel mundial mais carne comem. Estima-se que cada português consome em média 95 Kg de carne por ano, o que dá a bonita parcela de 260 gramas por dia, o que equivale a dois bons bife. Desta quantidade, quase metade corresponde a carne de porco e a restante entre a de origem bovina e de aves.

Faço as minhas contas e, mesmo contando com um ou outro exagero em dias festivos, não consigo chegar nem de perto a esses números e quantidades per capita, desde logo porque habitualmente o peixe entre com regularidade nas ementas cá em casa e mesmo quando carne pouco mais que 100 gramas já limpa de ossos. Além disso, por vezes, muitas, nem carne nem peixe e apenas um simples ovo ou umas pataniscas vegetais.

Em resumo, as contas são fáceis de fazer e acreditando na FAO chego à conclusão que há muitos anos alguém anda a comer a quota parte a que tinha direito. Que há por aí muitos comilões a irem com frequência ao Zé de Ver, sei que há, mas assim a roubarem descaradamente a minha parte, o meu naco, ficando eu com a fama de comedor mas sem o proveito, é que não!

As médias nas estatísticas têm esta particularidade, a de pagarem todos pela mesma medida e por elas até os vegetarianos comem carnes.

31.01.24

Festival RTP da Canção - Mais do mesmo?


a. almeida

O "Festival RTP da Canção" parece que vai fazer agora 60 anos, sendo considerado o programa de entretenimento mais antigo da televisão portuguesa. Começou em 1964, então como "Grande Prémio TV da Canção Portuguesa".

Costuma-se dizer que em equipa que ganha não se mexe ou como numa boa receita de culinária não se toca, mas como neste aspecto a nossa RTP nunca acertou com os ingredientes certos nem com o tempo de cozedura, desde que a nossa televisão começou a ser colorida lá pelo início da década de 1980, o seu festival de canções inverteu-se e desde então tem sido de um cinzentismo escuro e nem os cada vez maiores palcos, quantidade de luzes e efeitos, tamanho dos cenários estapafúrdios e virtuais e ainda o desfile de apresentadores e apresentadores em trajes de gala e com generosos decotes, têm trazido luz e cor à coisa. E sobretudo qualidade.

Além do mais, quando se põem os tele-espectadores a decidirem a coisa com telefonemas que dão boa receita, tudo se conjuga para que não passe anualmente de um entretenimento sem grande interesse no que à intrínseca qualidade musical e artística diz respeito. Depois, invariavelmente, o teste no palco europeu do Eurofestival, também repetidamente, com raras excepções, confirma que não fomos talhados para estas coisas e assim temos andado lá pelos fundos da tabela e a ouvir dos júris: - Portugal, one point!

A vitória do Salvador Sobral em 2017 foi de facto uma muito boa excepção, a confirmar a regra, por um conjunto de motivos que não cabe aqui esmiuçar, mas mesmo ela sem qualquer deslumbramento e também a fazer prova que pelo teste europeu a coisa tem andado nivelada por baixo. De resto, tanto na Europa como em Portugal, que lhe segue as tendências, este concurso na sua essência há muito que deixou de ser musical em detrimento de uma miscelânia mediática de efeitos visuais que se permitem arregalar os olhos também entopem os ouvidos.

Mas é o que é e não passará disto por mais que todos os anos, como aprendizes de alquimistas, se inventem novas fórmulas e se arregimentem velhas e novas caras.

Neste ano de 2024 parece que vão ser 20 autores que simultaneamente são apresentados como compositores e intérpretes, como se isso seja garantia do que quer que seja. 14 terão sido escolhidos pela RTP e os restantes por submissão directa. Há muito que até essa componente democrática dos primeiros anos, em que em teoria qualquer um poderia concorrer, acabou e os critérios de escolha têm sido manhosos ou discutíveis. Até tivemos (em 1976) um único cantor (Carlos do Carmo) a interpretar todas as músicas. O próprio nome do festival foi alterado várias vezes e somente a partir de 1979 é que se fixou (mais ou menos) no actual mas mesmo assim agora tratado apenas como "Festival da Canção" seguido do ano correspondente.

Não se pode, pois, dizer que não tenhamos tentado de todas as formas e feitios. Seja como for, basta atentar no nome de alguns dos artistas para o concurso deste ano de 2024 para se adivinhar o que aí vem: Assim vamos ter um Bispo, um Buba, um Huca, um Borch, uma Mila, uma Mela, um No Maka e um Silk, entre outros. Bem sei, são só nomes, mas agora parece que quase ninguém tem nomes próprios. E com os neutros, vai ser bonito.

Não tenho nenhum problema por resolver com este festival e muito menos com a música portuguesa. De resto musicalmente não sou preconceituoso e tenho apenas dois tipos, a que gosto e a que não gosto e o leque é abrangente e vai da gregoriana ao jazz. É certo que a que gosto é rara como o atum em mar de sardinha, mas há ainda boa música e músicos e daquela e daqueles que não precisam dos empurrões dos média que como Midas, num toque de mágica, transformam merda em ouro. O que não falta por aí no panorama musical português é merda, mas, se servir de consolo ou atenuante, da boa. Mas, como qualquer coisa que se vende, é porque há quem compre ou consuma. Desculpem a linguagem!

Posto isto, dê as voltas que der, este sexagenário Festival RTP da Canção não passará de um pingarelho anual, uma laranja seca da qual se procurará extrair sumo que não tem, sendo que nestas coisas haverá sempre refrigerantes que parecerão saborosos mesmo que sintéticos e a fazerem mal aos triglicerídos e colesterol e ainda a aziar a vesícula.

Mas é só o raio de uma opinião de quem já não vai para novo.

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