15.05.25
Negócios com o estado, concertos e valsas
a. almeida
Nunca as contei, e deve ser tarefa impossível saber o número de empresas privadas que fizeram negócios com o Estado, com a Administração Pública. Por conseguinte, como qualquer particular, o Estado contrata um serviço ou compra um bem e paga por isso. A muitas, centenas ou milhares de empresas. Nem mais nem menos.
Mas, por estes dias, a reboque do caso Spinumviva, em que jornais especializados na arte de dar muita parra e colher pouca ou nenhuma uva, fazem grande alarido pelo facto de muitos clientes da tal empresa terem facturado balúrdios com o Estado. Ou seja, uma novidade! Mais do que isso, entretece-se um manto de dúvidas e espalha-se um anátema, como se fazer negócios com o Estado fosse algo obscuro e não sujeito a regras e procedimentos — sendo que, em muitos casos, tudo é feito por concursos públicos e submetido à lupa ou ao crivo do Tribunal de Contas, etc.
Para além de tudo, pasme-se, o Estado e a Administração Pública têm sido frequentemente considerados maus clientes, pagando com atraso, o que até torna esses negócios pouco apetecíveis — não surpreendendo, aliás, os muitos concursos que ficam desertos.
Eu próprio, que não tenho nem nunca tive uma empresa, já senti na pele a fama (e o proveito) de o Estado ser mau pagador. De facto, há uns anos, realizei para um tribunal uma avaliação imobiliária e — volte-se a pasmar — recebi quase dois anos depois, com muita insistência, obséquios e requerimentos. Lá pagaram, com todo esse atraso, sem um único cêntimo de juros de mora (coisa em que são experts a cobrar aos contribuintes). Convém dizer que, dos honorários recebidos, ainda liquidei o respectivo IRS. Tudo direitinho!
Como se vê, dessas empresas que cometeram o “crime” de realizar negócios com o Estado, não custa acreditar que algumas ainda estejam sem receber o pilim.
Mas, como por estes dias são muitas as caravanas a passar e os cães a ladrar, tudo vale para dar relevo ao que não tem. E, a dar-se o caso de haver algo, para isso é que existem essas coisas da Justiça. Apesar disso, na falta de ideias melhores — daquelas que realmente importam às pessoas: políticas, reformas, justeza nas contas públicas, desagravo de impostos, etc. — continua-se a malhar na mesma tecla, numa música monocórdica.
A ver vamos, no final da tarde do próximo domingo, quem é que vai tocar mais afinadamente e quem vai dançar com mais acerto. Não obstante, como todos são fracos dançarinos e piores músicos, não se espere um concerto — nem valsa à moda de Viena. Isso seria outra loiça!
É esperar. Até lá, ainda há teclas a serem recalcadas!